RESTRIÇÕES SINTÁTICO-SEMÂNTICAS DO OBJETO REDOBRADO: UM ESTUDO COMPARATIVO DO REDOBRO DE CLÍTICO

Autores

DOI:

https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2018.v6i1.158

Palavras-chave:

Redobro de clíticos, Sintaxe, Restrição sintática, Restrição Semântica

Resumo

Nesta pesquisa objetivamos estudar o redobro de clíticos pronominais. Martins (2013) descreve que em Português Europeu, em estruturas de foco contrastivo, o constituinte aparece realizado por um clítico e um pronome forte, com os mesmos traços de pessoas e número do clítico, precedido pela preposição a. Nesse caso, o clítico e o pronome forte a ele associado, realizam um único argumento verbal. Nesses contextos, ocorre a duplicação do pronome tónico, para colmatar a sua natureza fraca. Como consequência, surge a estrutura de redobro de clítico. No Português Brasileiro não é constatado o uso da preposição em redobro de objeto acusativo, e o fenômeno parece envolver apenas a primeira e segunda pessoas do singular, fatos que distinguem essa língua do Espanhol, do Português Europeu, do Português Medieval e Clássico, uma vez que, nessas variedades, a preposição aparece em redobro de objeto acusativo, e há também contextos de redobro com a terceira pessoa. Objetivamos investigar quais as restrições sintático-semânticas que permitem ou bloqueiam a ocorrência de redobro nessas variedades, fazendo para isso uma revisita de trabalhos sobre o fenômeno linguístico conhecido como redobro de clíticos em diferentes sincronias do português (Português Brasileiro, Português Europeu, Português Medieval e Português Clássico) e em variedades do espanhol, dando ênfase ao redobro relacionado aos complementos de verbos transitivos (constituintes com valor de objeto direto ou indireto), partindo de uma abordagem gerativista para a descrição e análise comparativa dos dados. O estudo comparativo nos revelou que o redobro de pronomes clíticos se condiciona a restrições impostas pelo importe sintático-semântico do sintagma redobrado. O estudo comparativo entre as descrições e dados do fenômeno no Português Brasileiro, Português Europeu, Português Medieval, Português Clássico e as variedades do Espanhol apontam que em todas as variedades, como restrição sintática dos sintagmas que participam das construções de redobro, o objeto redobrado não pode ser um NP nu, devendo, obrigatoriamente, projetar uma capa funcional DP. Também de forma comum entre as variedades, constatamos que em todas o predicado deve ser do tipo que apresenta leitura não[1]epistêmica, para que ocorra o redobro. Com relação ao aporte semântico, os dados revisitados apresentam especificidades referentes a cada variedade revisitada: em Espanhol o objeto acusativo redobrado pode ser tanto animado quanto inanimado, de primeira, segunda ou terceira pessoas, desde que tenha os traços positivos para referencialidade, especificidade e definitude. Já o dativo pode ser menos específico e menos definido nos dados observados do Espanhol. No Português Medieval, Português Clássico e Português Europeu, tanto o objeto acusativo quanto o dativo, quando redobrado, são necessariamente humano, específico, definido, podendo ser de primeira, segunda ou terceira pessoas. Já em Português Brasileiro o objeto direto ou indireto além de serem definidos e necessariamente humanos, são necessariamente primeira ou segunda pessoa.

Métricas

Carregando Métricas ...

Referências

ANDRADE, Aroldo Leal de. A subida de clíticos em português: Um estudo sobre a variedade europeia dos séculos XVI a XX. Tese (Doutorado) – Instituto da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010.

BITTENCOURT, Regina Lúcia. Apagamento de pronomes clíticos de forma reflexiva. In: LOBO, T.; OLIVEIRA, K. (Org.). África à vista: dez estudos sobre o português escrito por africanos no Brasil do século XIX. Salvador: EDUFBA, 2009.p.138-173. Disponível em . Acesso em 20 jun. 2017.

CARDINALETTI, A; STARKE, M.The typology of structural deficiency. In: VAN RIEMSDIJK, H. (ed.). Clitics and other functional categories in European languages. Berlin: Mouton de Gruyter, 1999, p. 145-233.

CARVALHO, Danniel da Silva. A estrutura interna dos pronomes pessoais em português brasileiro. Tese (Doutorado em Linguística). UFAL. Maceió, 2008. Disponível em <https://www.academia.edu/4381545/A_estrutura_interna_dos_pronomes_pessoais_em_Portugu%C3%AAs_Brasileiro>. Acesso em 25 jun. 2017.

CARVALHO, Nildemir Ferreira de. SEMÂNTICA GRAMATICAL: A SIGNIFICAÇÃO DOS PRONOMES. Alfa, São Paulo, 1984. Disponível em . Acesso em 05 dez. 2017.

CASTILHO, Célia Maria Moraes de. O processo de redobramento sintático no português medieval: formação das perífrases com estar. 2005. Tese (Doutorado) – Instituto da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2005.

CASTILHO, Célia Maria Moraes de. Primeiras histórias sobre a diacronia do dequeísmo: o clítico locativo en e o dequeísmo das orações relativas no PM. In: LOBO, T. et al (Orgs). Para a História do Português Brasileiro. Salvador: EDUFBA, Vol. VI, Tomo I, 2006. Disponível em <http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/maril014.pdf>. Acesso em 30 mai. 2017.

CASTRO, Márcia. Silva. A sintaxe dos clíticos pronominais do dialeto gaúcho atual, Dissertação (Mestrado em Linguística). PPGL/PUCRS. 2002.

CHOMSKY, Noam. O Conhecimento da Língua. Sua Natureza, Origem E Uso. Trad. Anabela Gonçalves e Ana Teresa Alves. Lisboa, Editorial Caminho, 1994.

CHOMSKY, Noam. Derivation by Phase. MIT Occasional Papers in Linguistics. 18. Cambridge, MA: MIT Working Papers in Linguistics, 1999.

CHOMSKY, Noam. The Minimalist Program. Cambridge: Mass, MIT Press.Trad. Eduardo Raposo, Lisboa: Editorial Caminho, 1999.

CORDIAL-SIN – Corpus Dialectal para o Estudo da Sintaxe (A. M. Martins, coord.). Disponível em < http://www.clul.ulisboa.pt/en/11-resources/313-cordial-sin-corpus-normalized-transcription> Acesso em 05 mai.2017.

DECESARIS, Janet Ann. (Eds.). Studies in Romance Linguistics. p. 377-397, 1989.

DINIZ, C. Eu te amo você - O redobro de pronomes clíticos sob uma abordagem minimalista. Dissertação de mestrado. UFMG: Belo Horizonte, 2007. Disponível em < www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/ALDR-7ABNGJ>. Acesso em 05 mai.2017.

DUARTE, Inês; BRITO, Ana Maria. Predicação e Classes de Predicadores. In: MATEUS, M.H.M et al (eds), Gramática da língua portuguesa. Lisboa: Caminho, 2003.

ENDRUSCHAT, Annette. A tríade Adverbial-Verbo-Pronome Clítico no Português Actual; Gramaticalização vs Pragmatização. Rev. Fac. Letras-Línguas e Literaturas Anexo VI-Porto, p.155-169, 1994.

GALVES, Charlotte. Do português clássico ao português europeu moderno: uma análise minimalista. Estudos Linguísticos e Literários, 19. ed. Salvador: Universidade Federal da Bahia. p. 105-128. 2014.

GALVES, Charlotte; FARIA, Pablo. Tycho Brahe Parsed Corpus of Historical Portuguese. 2010. Disponível em: <http://www.tycho.iel.unicamp.br/~tycho/corpus/en/index.html>. Acesso em 14 dez. 2017.

GIBRAIL, Alba Verônica Brito. O acusativo preposicionado no Português Clássico: uma abordagem diacrônica e teórica. 2003. Dissertação (Mestrado) – Instituto da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003.

GONÇALVES, Carlos Alexandre. Foco e topicalização: delimitação e confronto de estruturas. Rev . Est. Ling., Belo Horizonte, v .7, n.1, p. 31-50, jan. /jun. 1998. Disponível em <http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/2182>. Acesso em 14 dez. 2017.

GROPPI, Mirta. Variación en la expresión del objeto directo. 2006. Disponível em:<http://www.lle.cce.ufsc.br/congresso/trabalhos_lingua/Mirta%20Groppi.doc>. Acesso em: mai. 2017.

GRUBER, Jeffrey. Lexical structures in syntax and semantics .Amsterdam, North-Holland Publishing, 1976.

JAEGGLI, Osvaldo. Tres cuestiones en el estudio de los clíticos: el caso, los sintagmas nominales reduplicados y las extracciones. In: FERNÁNDEZ SORIANO, Olga. (Org.). Los pronombres átonos. Madri: Tauros Ediciones, 1993. p.141-172.

KENEDY, Eduardo. Gerativismo. In: Mário Eduardo Toscano Martelotta. (Org.). In.: Manual de lingüística. São Paulo: Contexto, 2008, v. 1, p. 127-140. Disponível em Acesso em 20 jun.2017.

KENEDY, Eduardo. 2013. Curso Básico de Linguística Gerativa. São Paulo: Contexto. 1993.

MARCILESE, Mercedes. Aquisição de complementos pronominais acusativos: um estudo experimental contrastivo entre o português brasileiro e o espanhol rio-platense. Dissertação (Mestrado em Letras) –Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

MARTINS, Ana Maria. A posição dos pronomes pessoais clíticos. In: organizada por RAPOSO, Eduardo Paiva. et al. (Orgs.). Gramática do Português. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. 2013. 2231-2302.

MATEUS et alii Gramática da Língua Portuguesa, capítulo 20.5: Tipologia dos pronomes clíticos (de autoria de Ana Maria Brito), pp. 826-844. Lisboa: Editorial Caminho, 2003.

MEIRA, Vivian. A obviação /referencia disjunta em complementação sentencial: Uma proposta sintático-semantica. 229f. Tese (Doutorado em Linguística). Instituto de Estudos da Linguagem - IEL, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP. Campinas, 2013.

MIOTO, C.; SILVA, M. C. F.; LOPES, R. E. V. Manual de Sintaxe. Florianópolis: Insular, 1999.

MIOTO, Carlos. Sintaxe do português. Florianópolis: LLV/CCE/UFSC, 2009.

NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: UNESP, 2000. Disponível em: <https://books.google.com.br>. Acesso em: 21 jun.2017.

NUNES, Jairo. De clítico à concordância: o caso dos acusativos de terceira pessoa em Português Brasileiro. Cadernos de ESTUDOS LINGÜÍSTICOS. n. 57.1, Campinas, jan./jun. p. 61-84.2015. Disponível em: <https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8641472/8989>. Acesso em: 21 jun.2017.

OLIVEIRA, Marilza. Nós se cliticizou-se? In: LOBO, T. et al (Orgs). Para a História do Português Brasileiro. Salvador: EDUFBA, v. VI, Tomo I, 2006. Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/maril014.pdf>. Acesso em: 01 jun. 2017.

PEREIRA, Ana Luiza Dias. Os pronomes clíticos do PB contemporâneo na perspectiva teórica da Morfologia Distribuída, 2006. Tese (Doutorado em Linguística). Programa de Pós-Graduação em Lingüística – PPGL. Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, Florianópolis, 2006. Disponível em: <https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/88868/227968.pdf?sequence=1>. Acesso em: mai. 2017.

PEREIRA, Sirlene Freire dos Santos. Redobro de clíticos em português brasileiro: restrições sintáticas e semânticas. Monografia (Graduação em Letras). Universidade Estadual da Bahia, Brumado, 2015.

RAPOSO, Eduardo. Some Observations on the Pronominal System of Portuguese. CatWPL. v. 6, p. 59-93, 1998.

RAPOSO, Eduardo. Clitic Positions and Verb Movement. In: COSTA, J. (ed.). Portuguese Syntax: new Comparative Studies. Oxford Studies in Comparative Syntax. Oxford: Oxford University Press, 2000.

SÂNDALO, Maria Filomena Spatti. Morfologia. In: MUSSALIN, Fernanda e BENTES, Anna Christina (org.) Introdução à linguística. São Paulo: Cortez, 2001.

SANTOS, Thiago da Silva. ANIMACIDADE: um estudo entre línguas. Dissertação (Mestrado em Linguística), Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Linguística, 2013. Disponível em: . Acesso em: 23 jun. 2017.

SILVA-CORVALÁN, Claudio. La función pragmática de la duplicación de pronombres clíticos. Boletín de Filología de la Universidad de Chile. XXXI, 1981

SILVEIRA, Gessilene. O comportamento sintático dos clíticos no português brasileiro. Dissertação (Mestrado em Linguística). Universidade Federal de Santa Catarina, Florianopolis,1997.

SUÑER, Margarita. El papel de la concordancia en las construcciones de reduplicación de clíticos. In: FERNÁNDEZ SORIANO, Olga. (Org.). Los pronombres átonos Madrid: Tauros Ediciones, 1988. p.174-184.

TOURINHO, Júlia Braga. Dativo ético: um estudo sobre o comportamento do pronome não argumental no português brasileiro. Monografia. Universidade de Brasília. Brasília, 2015. Disponível em: <http://www.bdm.unb.br/bitstream/10483/16463/1/2015_JuliaBragaTourinho_tcc.pdf>. Acesso em: 10 mai. 2017

Downloads

Publicado

30-12-2018