A FUNDAÇÃO DA AUTORIA NO PROCESSO DE PRODUÇÃO DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO: O AUTOR (INTER)MEDIADO

Resumo

A figura autoral, seja na produção literária, escolar, acadêmica etc., muitas vezes, é confundida com a pessoa escrevente, concebida como um indivíduo dotado de criatividade e que busca expressar sua intenção. De fato, a existência do autor pressupõe que haja uma pessoa, entretanto não devemos confundir estas duas instâncias. Nesta pesquisa de doutorado, refletimos especificamente a respeito da autoria na produção de dissertação de mestrado, um gênero discursivo com produção e circulação no meio acadêmico, o qual requisita, em seu interior, diferentes vozes em diálogo: do mestrando-autor, do orientador, dos autores citados, dos professores de bancas de qualificação e defesa, por vezes do revisor de textos, entre outros. Nesse sentido, cremos tratar-se de uma autoria (inter)mediada, porquanto o autor, nesse gênero, deve assumir um papel ativo ao longo do processo, em interação com seus interlocutores. Nosso objetivo geral é caracterizar a instância autoral que emerge no processo de produção de uma dissertação de mestrado acadêmico, com base na gênese da escrita desse gênero discursivo, levando em consideração as exigências do gênero, a interação que se estabelece com o ‘outro’ no ambiente acadêmico e a relação que o autor mantém com o conhecimento, neste caso as produções científicas, orientador, outros professores, revisor de textos etc. São objetivos específicos: refletir sobre o papel do orientador, bem como outros parceiros, no processo de produção da dissertação de mestrado, se se trata de colaboração na escrita ou se tende para um trabalho coautoral; discutir sobre os gêneros do discurso e, em especial, o gênero acadêmico dissertação de mestrado, sob a perspectiva bakhtiniana, buscando algum subsídio, também, nos Estudos Retóricos de Gêneros; analisar versões de um mesmo texto de dissertação de mestrado (documentos de processo) que permitam reconhecer a gênese do texto, mediante os movimentos de sua escritura, dos quais participam, junto com o candidato, orientador, professores que constituem as comissões de qualificação e defesa, revisor de textos, dentre outros – determinantes no processo de constituição da figura autoral. Em aspectos teóricos, fundamentamos esta pesquisa nas considerações do filósofo russo Mikhail Bakhtin quanto a sua concepção sobre a autoria, pois a define como uma posição de deslocamento em direção ao outro (outro como vozes, opiniões, discursos), além de ser responsável pelo orquestramento dessas vozes no interior de seu texto, e outros autores, como: Barros (1999), Marcuschi (2008), Faraco (2009), Motta-Roth e Hendges (2010), Amorin (2018), Sobral (2019), entre outros. Metodologicamente, com o auxílio da Crítica Genética, organizamos os dados coletados que compõem nosso corpus, quais sejam: arquivos digitais (em Word e PDF), arquivos impressos, mensagens de e-mail e conversas de WhatsApp (texto e áudio). Constatamos, em nossas análises, que o orientador, coautor em alguns momentos, bem como professores componentes de bancas e profissional revisor de textos contribuem para a ampliação do letramento acadêmico do mestrando em direção à apreensão do gênero e, também, colaboram para a constituição da autoria, uma vez que o estudante, ao utilizar o gênero com liberdade e domínio, se posiciona sociodiscursivamente, administrando vozes teóricas no interior do gênero.