O ANTES, O AGORA E O PORVIR: SENTIDOS DE MULHER NEGRA NO BRASIL

Autores

DOI:

https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2023.v11i1.266

Palavras-chave:

Raça. Gênero. Mulher Negra. Escravidão. Semântica do Acontecimento.

Resumo

Nesta pesquisa, procuramos investigar sentidos de mulher negra em funcionamento no Brasil. Nessa perspectiva, objetivamos responder à seguinte pergunta: Quais sentidos de mulher negra funcionam no Brasil, no que diz respeito aos aspectos sociais e históricos que a constituem enquanto tal? Como desdobramento desta pergunta, propusemos o seguinte: Considerados os aspectos sociais e históricos, como se constituem semanticamente os sentidos de mulher negra no que diz respeito às relações interpessoais, ao corpo, ao trabalho e aos movimentos sociais? No sentido de alcançar o objetivo proposto, selecionamos e compusemos um corpus compilado de diferentes esferas – jurídica, jornalística, estatística e literária –, conforme a especificidade do objeto – mulher negra. Por se tratar de um corpus multifacetado, foi necessária uma organização que considerasse uma metodologia específica: o trajeto temático. Em linhas gerais, o trajeto temático funciona como um fio condutor que permite, dado o tema estudado, agrupar diferentes textos na costituição do corpus (GUILHAUMOU; MALDIDIER; ROBIN, 2017). Para tanto, dada a naturezapredominantemente histórica e social do corpus, consideramos importante para a sua análise um aporte téorico-metodológico que atenda a essa característica. Tomamos, portanto, a Semântica do Acontecimento (GUIMARÃES, 1995;  2002;  2007;  2009;  2011) como esse fundamento teórico por se tratar de uma semântica histórica e enunciativa, que considera que o sentido se constitui historicamente, juntamente com a relação do social e do sujeito que enuncia. A análise dos dados indicou que os sentidos de mulher negra no Brasil são constituídos a partir da condição afrodiaspórica da qual descende. Desse modo, reverberam-se no presente a memória de uma escravidão juridicamente extinta, cujas marcas e novas formas de existir permanecem estrutural e sistematicamente, sobretudo nas relações interpessoais, no corpo dessa mulher, no trabalho e em movimentos sociais. Desse modo, do ponto de vista linguístico-semântico, os sentidos de mulher negra são caracterizados pelos efeitos de um sistema escravista que, embora extinto, continua produzindo desigualdades interseccionadas: gênero, raça/cor, classe. Nesse sentido, há uma indissociabilidade entre passado e presente e, talvez, no porvir, que caracterizam essa mulher.

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Publicado

30-12-2023