UM ESTUDO DIACRÔNICO SOBRE A ORDEM E A FUNÇÃO DO CLÍTICO SE NO PORTUGUÊS CLÁSSICO

Autores

DOI:

https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2016.v4i1.77

Palavras-chave:

SE-Indeterminado, SE-Passivo, SE-Reflexivo, Português Clássico

Resumo

Na história do Português, a sintaxe dos pronomes clíticos é um importante objeto de estudo para se entender as mudanças na gramática dessa língua.Galves, Paixão de Sousa e Namiuti (2006) destacam, para isso, dois aspectos relevantes da diacronia do Português: a interpolação e a variação ênclise e próclise. Entre os demais tipos de clítico, o SE se destaca por apresentar um comportamento diferente, pois, enquanto os outros clíticos estão associados, exclusivamente, à função sintática de objeto, o SE pode se associar às funções de sujeito ou objeto. Baseados em Brito, Duarte e Matos (2003), caracterizamos três tipos de SE associados à função sujeito e objeto: o SE-Passivo em que o argumento interno concorda com o verbo transitivo direto e recebe o caso nominativo, sendo o SE um morfema apassivador relacionado ao sujeito; o SE- Indeterminado nas construções em que o verbo não concorda com o seu argumento interno, em que o SE recebe o caso nominativo, sendo a representação de um sujeito arbitrário ou indeterminado; e SE-Reflexivo, em que o SE recebe o caso acusativo do verbo transitivo direto. Os estudos de Cavalcante (2006) sobre as ocorrências de SE nas orações não finitas em três variantes do português apontam que a mudança na natureza do “SE” acompanha a mudança na frequência de próclise e ênclise desse clítico na diacronia do português que compreende a passagem da gramática do Português Clássicopara o Português Europeu e Português Brasileiro. Neste trabalho, partimos da hipótese que a natureza do SE influencia sua ordem relativa em contexto de variação ênclise e próclise e nos contextos de interpolação,e, descrevemos o uso do clítico SE em orações finitas,observando a possível existência de uma relação entre a posição e o tipo/função desse clítico em textos de autores portugueses nascidos nos séculos XVI, XVII e XVIII, período que representaa gramática do Português Clássico, extraídos do Corpus TychoBrahe. O uso de SE associado a função sujeito, SE-Passivo e SE-Indeterminado, parece favorecer a colocação enclítica nos contextos de variação, mesmo nos séculos XVI e XVII, em que a frequência de próclise é superior, pois, na distribuição do tipo de SE pela colocação, a frequência de ênclise para esses dois tipos de SE mantém-se bastante elevada nos contextos de variação ênclise/próclise, o oposto acontece com o SE-Reflexivo que mantém elevada frequência de próclise e ênclise marginal.

 

Como citar:

LOPES, Eloísa Maiane Barbosa. Um estudo diacrônico sobre a ordem e a função do clítico SE no Português clássico.  Orientadora: Cristiane Namiuti. Coorientador: 2016. 138f. Dissertação (mestrado em Linguística) – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Programa de Pós-graduação em Linguística, Vitória da Conquista, 2016. DOI: https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2016.v4i1.77 . Acesso em: xxxxxxxx

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Referências

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Publicado

30-12-2016