LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO MÉDIO: O TEXTO COMO PONTO DE PARTIDA(?)

Autores

DOI:

https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2017.v5i1.111

Palavras-chave:

Ensino, Língua Portuguesa, Linguística Textual, Texto, Gêneros Discursivos

Resumo

O ensino de língua materna, nas últimas décadas, tem sido centro de debates e discussões por linguistas, professores e educadores, os quais discutem os objetivos desse ensino, as diversas possibilidades de conduta que o professor pode seguir em sala de aula com base em distintas concepções de linguagem, entre outros amplos e variados aspectos. Nesse sentido, considerando essas discussões, e depois de instituídos os documentos oficiais (PCNs), procuramos investigar o processo de ensino e aprendizagem de Língua Portuguesa realizado em uma escola de Ensino Médio do interior da Bahia, para averiguarmos como tem sido realizado esse ensino, nesta escola, nos idos de 2017. Para alcançarmos os objetivos propostos, inserimo-nos na escola e observamos as aulas de Língua Portuguesa em duas turmas, de segundo e terceiro anos, respectivamente, no período equivalente a um trimestre letivo. Utilizamos, como instrumentos de coleta de dados, o diário de bordo, no qual foram anotados os procedimentos utilizados nas aulas observadas, e um questionário destinado aos sujeitos da pesquisa (professores de Língua Portuguesa), cuja finalidade foi a obtenção de informações adicionais relevantes para a análise dos dados. Respaldamo-nos na teoria dos gêneros discursivos e nas concepções de língua e linguagem propostas por Bakhtin (2011; 2014). Para o autor, a língua é dialógica e precisa ser compreendida em uma perspectiva interacional e os gêneros do discurso são “tipos relativamente estáveis de enunciado”, os quais organizam e concretizam nossas ações linguísticas. Também fundamenta nossa pesquisa a Linguística Textual, que incorpora à sua teoria as ideias de Bakhtin. Sendo assim, o ensino de língua materna deve adotar como ponto de partida o texto, sob a roupagem dos diversos gêneros discursivos/textuais, conforme indicam os PCNs (BRASIL, 1999), também foco de nossas discussões, e autores como Koch (2011), Antunes (2005; 2008; 2009), Marcuschi (2008), Geraldi (2011), Bezerra (2007), Bunzen (2006), Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), entre outros. De modo geral, nossos resultados apontam para o fato de que as aulas observadas foram alicerçadas, em sua grande maioria, em ensino de gramática normativa ou de historiografia literária, sendo o texto utilizado como “disfarce” para trabalhar a gramática ou as características estilísticas ou históricas da literatura. Por isso,ainda é necessário fundamentar o trabalho com o texto em concepções mais sociointercionistas da linguagem, tendo por base os gêneros discursivos, conforme conjecturam os PCNs, de modo que o ensino de Língua Portuguesa possa formar, efetivamente, cidadãos crítico-reflexivos, isto é, sujeitos conscientes e conhecedores da competência discursiva da linguagem, sendo capazes de adequá-la aos diferentes contextos sociocomunicativos.

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Publicado

30-12-2017