DISCURSO E MEMÓRIA: O PASTORADO FEMININO NAS CONVENÇÕES BATISTA BRASILEIRA E BATISTA NACIONAL
DOI:
https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2017.v5i1.124Palavras-chave:
Discurso, Memória discursiva, Polêmica, Pastorado feminino, Movimento feministaResumo
Este trabalho tem como objetivo principal analisar os efeitos de memória e os efeitos de sentido constituídos na/pela relação entre dois posicionamentos presentes no contexto evangélico batista acerca da legitimidade do pastorado feminino. Para tanto, consideramos o posicionamento das duas principais convenções Batistas no Brasil, a Convenção Batista Brasileira (CBB) e a Convenção Batista Nacional (CBN). Para realizar o estudo desses posicionamentos, utilizamos como corpus documentos institucionais, artigos de opinião publicados no O Jornal Batista, da Convenção Batista Brasileira, e trechos do debate sobre a ordenação feminina, promovido pela Ordem de Pastores Batistas Nacionais do Distrito Federal, filiada à Convenção Batista Nacional. A metodologia utilizada para elaboração deste trabalho incidiu sobre a análise de indícios linguísticos e textuais que permitiram identificar o funcionamento discursivo nos textos analisados. A partir da identificação desses indícios, analisamos, primeiramente, os enunciados com base na noção de descontinuidade histórica, nos termos de Foucault [1969(2002)] e [1972(2008)]. Em um segundo momento, verificamos como, nos enunciados sob análise, a memória discursiva permite a relação entre dois acontecimentos discursivos sobre a mulher (movimento feminista e defesa do pastorado feminino) a partir das considerações teóricas sobre o funcionamento da memória, desenvolvidas por Pêcheux (2007, 2006), Achard (2007) e Indurski (2011). Para compreendermos o funcionamento da memória nesses dois acontecimentos, analisamos os efeitos de sentido das palavras “igualdade” e “liberdade” como ideais defendidos nas três ondas do movimento feministas, a fim de verificar de que maneira esses lexemas encontram[1]se materializados, como efeito de memória sobre a atualidade, nos textos sobre o pastorado feminino. Finalmente, apoiados em Maingueneau (2005; 2010), discutimos a polêmica discursiva, a partir da análise de elementos linguísticos presentes nos enunciados, os quais permitiram a identificação das três dimensões do discurso polêmico defendidas pelo autor, a saber: a dimensão enunciativo-pragmática, a dimensão sociogenérica e a dimensão semântica. Como resultado das análises, verificamos três características sobre o funcionamento discursivo do corpus analisado: i) os processos discursivos que envolvem a legitimidade da mulher pastora se dão com base em relações de poder, rupturas e reconfigurações históricas; ii) as tensões presentes no processo interdiscursivo indicam marcas históricas do campo religioso, social, filosófico e até mesmo político que interpelam o sujeito, e essas marcas ocorrem devido a um efeito da memória sobre a atualidade no acontecimento discursivo; e, por fim, iii) a memória discursiva se materializa também no discurso polêmico através da imbricação das dimensões enunciativo-pragmática, sociogenérica e semântica.
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