UM ESTUDO SOCIOFUNCIONALISTA DAS VARIANTES NEGATIVAS NÃO E NUM NO PORTUGUÊS FALADO DE VITÓRIA DA CONQUISTA
DOI:
https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2018.v6i1.157Palavras-chave:
Negação, Sociolinguística, Funcionalismo, Sociofuncionalismo, FunçãoResumo
Nesta dissertação, investigamos a negação sentencial com o item negativo não e a variante fonológica num nas perspectivas morfossintáticas, fonológicas e semântico-discursivas, a fim de reafirmar as posições sintáticas do elemento negativo (não /num) e atestar as novas funções semânticas na oralidade. O aporte teórico que embasa essa pesquisa é da Sociolinguística Laboviana, que consiste em analisar os fatores linguísticos e sociais que atuam no processo da variação e da mudança linguística; da teoria Funcionalista, com princípio da gramaticalização desenvolvido por Hopper (1991) Hopper e Traugott (2003); e do Sociofuncionalismo, nos quais nos apoiamos para a análise dos dados. Do ponto de vista metodológico, foram adotados os pressupostos metodológicos labovianos. Os corpora utilizados são constituídos de 24 (vinte e quadro) entrevistas, sendo 12 (doze) extraídas do Corpus do Português Popular de Vitória da Conquista (Corpus PPVC) e 12 (doze) extraídas do Corpus do Português Culto de Vitória da Conquista (Corpus PCVC), ambas referentes ao vernáculo da cidade de Vitória da Conquista - Bahia. Os resultados quantitativos evidenciaram que: a) a negação com o item não e num está em variação linguística; b) as posições sintáticas pré-verbal e dupla negação favorecem a ocorrência do num e, em posições pré- e pós-constituinte, o uso do não é categórico; c) as funções inovadoras de manobra discursiva e introdutor discursivo com o item linguístico não atestam o princípio da gramaticalização; d) os fatores sociais evidenciaram que o a maior produção da variante padrão ocorreu com informantes cultos, a maior frequência da negação do não foi realizada pelos informantes da faixa I e a maior realização da variante reduzida por informantes do sexo feminino. Com os nossos resultados, constatamos a variação estável das variantes não e num no vernáculo conquistense, em especial, o item linguístico não que tem adquirido novas funções semântica-pragmáticas de introdutor discursivo e manobra discursiva, atestando, assim, o princípio da gramaticalização.
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