O PORTUGUÊS AFRO-BRASILEIRO: A CONCORDÂNCIA VERBAL DE TERCEIRA PESSOA DO PLURAL NA COMUNIDADE QUILOMBOLA RIO DAS RÃS-BA

Autores

DOI:

https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2019.v7i1.174

Palavras-chave:

Comunidade Quilombola Rio das Rãs, Concordância Verbal, Variação Linguística, Sociolinguística Variacionista

Resumo

No presente trabalho, analisamos a concordância verbal de terceira pessoa do plural na fala dos informantes da comunidade remanescente de quilombo Rio das Rãs, localizada no município de Bom Jesus da Lapa - Bahia. O estudo deste corpus é relevante para traçar um panorama sócio-histórico-cultural do português popular brasileiro, com o objetivo de analisar grupos de fatores linguísticos e extralinguísticos que podem estar motivando a marcação de concordância verbal de terceira pessoa do plural. A pesquisa, conduzida com base na metodologia proposta pela Sociolinguística Variacionista (LABOV, 1972-2008; WEINREICH; LABOV; HERZOG, 1968-2006) partiu de um corpus constituído de 24 (vinte quatro) entrevistas, registradas em inquéritos com duração de 50 minutos. Para sua constituição, os informantes foram selecionados, considerando perfis sociais como: (a) Sexo (12 do sexo masculino e 12 do sexo feminino); (b) Faixa etária (08 jovens –25 a 35 anos; 08 adultos – 45 a 55 anos; 08 idosos – com mais de 65 anos); (c) Grau de escolaridade (sem escolarização e semiescolarizado; (d) Exposição à mídia; e (e) Redes de relações sociais. Esses inquéritos, resultantes de coleta de fala espontânea, foram transcritos e posteriormente submetidos ao Programa estatístico GoldVarb X. Na presente análise, foram controlados os seguintes grupos de fatores linguísticos: Realização e Posição do Sujeito, Concordância Nominal no Sujeito, Indicação do Plural no SN Sujeito, Caracterização Semântica no Sujeito, Tipo de Verbo, Tempo e Modo Verbais, Saliência Fônica e Forma do Último Constituinte do SN que está antes do verbo. O corpus apresenta 993 ocorrências do fenômeno em estudo. Desse total, obtivemos um percentual de 14,4% de marcação de concordância verbal de P6 contra 85,6% de não marcação. A partir disso, nossos resultados indicam que, do ponto de vista linguístico, com as variáveis saliência fônica (formas verbais mais salientes), tempo e modo verbais (Pretérito perfeito do indicativo e pretérito imperfeito do subjuntivo), realização e posição do sujeito (sujeito anteposto por uma relativa e sujeito não realizado), concordância nominal no SN sujeito (SN sujeito com concordância) e tipo de verbo (copulativo e modal) ocorrem mais marcas de CV de P6. Com a análise dos fatores extralinguísticos, observamos que a faixa etária I (25 a 35 anos), o sexo (mulheres) e as redes de relações sociais (dispersa) favorecem o uso da variante com marcas de CV de P6 na amostra de fala usada neste estudo. De um modo geral, os resultados apontam a baixa marcação da CV de P6 nos dados de fala da comunidade estudada.

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Publicado

30-12-2019