CONSCIÊNCIA SINTÁTICA DA LIBRAS EM FALANTES SURDOS E OUVINTES

Autores

DOI:

https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2020.v8i1.189

Palavras-chave:

Consciência Sintática, Aquisição da linguagem, Aquisição da escrita, Gerativismo, Sistema de Escrita de Libras – SEL

Resumo

O presente estudo, de caráter transversal e de cunho experimental, teve como objetivo investigar o nível de consciência sintática em usuários da Libras antes e depois do aprendizado inicial de um sistema de escrita para língua de sinais. Para verificar o referido nível de consciência sintática, utilizamos como instrumento o Teste de Consciência Sintática em Língua de Sinais (TCSLS), elaborado por nós a partir dos testes: Consciência Fonológica em Crianças Pequenas (ADAMS et al, 2006) e Prova de Consciência Sintática (CAPOVILLA E CAPOVILLA, 2006). Através da aplicação do TCSLS, foi investigada a existência de consciência sintática, bem como o nível dessa consciência, em usuários de Libras, que não haviam tido, no primeiro momento, nenhum tipo de aprendizagem de escrita das línguas de sinais. Analisamos os dados de sujeitos-informantes divididos em dois grupos: surdos e ouvintes. Num segundo momento, estes grupos passaram por um processo simplificado de aprendizagem da SEL (Sistema de Escrita da Libras), em que foram trabalhados um número reduzido de sinais e frases simples, a fim de tornar viável o ensino do sistema num espaço curto de tempo. Após essa etapa, os informantes foram novamente submetidos ao TCSLS, para investigar possíveis alterações nos níveis de consciência sintática sobre a Libras, a partir do contato com a língua na modalidade escrita. Para validação dos instrumentos de pesquisa, todos os testes passaram, antes de sua aplicação, por um grupo controle, com informantes diferentes do grupo teste. As perguntas motivadoras da pesquisa foram: 1. O usuário de Libras tem consciência do que é sinal a partir da estrutura articulatória da língua? 2. A ausência de conhecimento de uma escrita para Libras interfere no nível de consciência sintática dessa língua? 3. Existe diferença de consciência sintática entre surdos que adquiriram a Libras na infância, surdos que adquiriram a Libras tardiamente, e ouvintes bilíngues (Português/Libras)? A fim de responder a tais questões assumimos as seguintes hipóteses de estudo: 1. O usuário de Libras apresenta consciência parcial dos sinais. 2. A aquisição de um sistema de escrita para Libras contribui para que o usuário dessa língua tenha consciência sintática da mesma, uma vez que pesquisas anteriores apontam que quanto mais se amplia o letramento sobre determinada língua mais se desenvolve a consciência sintática sobre a mesma. 3. Existe diferença no nível de consciência sintática em usuários da Libras que tiveram algum tipo de contato com o ensino de línguas. Este estudo tem como base teórica os princípios gerativistas e a hipótese inatista da aquisição da linguagem, tendo como foco uma abordagem em nível sintático, que é a identificação e extração das regras de organização frásica da língua, considerando as funções sintáticas dos sintagmas, que são, conforme a teoria, os níveis intermediários entre a palavra e a frase. Os resultados apontam que os sujeitos dessa pesquisa, surdos e ouvintes, apresentam consciência parcial dos sinais, bem como certo nível de consciência sintática, ainda que fraca. Os falantes ouvintes apresentam um nível maior de consciência sintática do que os falantes surdos da Libras por sofrerem influência da consciência que já possuem da Língua Portuguesa. Os dados também confirmam que aprender a modalidade escrita da língua contribui para o aumento dessa consciência.

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Publicado

30-12-2020