O PRONOME SE NA SÓCIO-HISTÓRIA DO PORTUGUÊS POPULAR DO BRASIL: UM ESTUDO SOCIOLINGUÍSTICO DO VERNÁCULO DA COMUNIDADE QUILOMBOLA DO RIO DAS RÃS

Autores

DOI:

https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2020.v8i1.191

Palavras-chave:

Português Popular, Pronome SE, Sociolinguística

Resumo

A presente dissertação discute a realização do pronome SE à luz da Sociolinguística variacionista de cunho laboviano (LABOV, 1972), estendendo-se para uma abordagem sócio-histórica. Tomam-se como “corpus” as falas de quilombolas (homens e mulheres; jovens, adultos e idosos, escolarizados precariamente ou não escolarizados) moradores do Quilombo do Rio das Rãs, situado na zona rural de Bom Jesus da Lapa – BA. Inicialmente, recupera-se o conceito de português popular (LUCCHESI, 2015) e especialmente de português afro[1]brasileiro (SILVA, 2003), procurando discutir a formação sócio-histórica do Português do Brasil (MATTOS E SILVA, 2004) à medida que apresenta um quadro de variação (LABOV, 1972) e possível tendência de mudança em curso em direção ao uso do pronome SE, em situações controladas (entrevistas gravadas) e por meio de condicionantes estruturais (tipo de clítico, valor semântico, função sintática, pessoa do sujeito) e sociais (sexo, faixa etária, estada na comunidade, escolarização). A hipótese norteadora desta pesquisa é a de que os falantes do português afro-brasileiro tendem ao apagamento do clítico dito reflexivo. Para tanto, por meio de uma análise da história da comunidade (ASSIS, 2019) desenha-se um quadro que aponta para um estágio de contato linguístico (LUCCHESI, 2000), o qual veio a redundar numa forma especial de variação, em que dados do contato estão paulatinamente se perdendo nas comunidades graças às alterações sócias. Os dados evidenciaram a preferência pelo apagamento do pronome SE junto ao verbo na comunidade de Rio das Rãs. Quanto ao condicionamento linguístico, o uso do SE mostrou-se sensível ao tipo de clítico e à pessoa do sujeito. Em relação ao condicionamento social, contatamos que as mulheres tendem a assumir comportamento linguístico, no tocante à realização do pronome.

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Publicado

30-12-2020