DESVALORIZAÇÃO OU RECONHECIMENTO? A CONTRADIÇÃO NOS SENTIDOS DE PROFESSOR
DOI:
https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2020.v8i1.195Palavras-chave:
Semântica do Acontecimento, Professor, Sentidos, PolíticoResumo
Em contato com diversos textos notamos que, embora a importância social do professor seja reconhecida, sentidos de desprestígio também são percebidos, contudo, não se trata de uma separação maniqueísta, dado que os sentidos apontam, ao mesmo tempo, que o professor é importante ao passo que é desvalorizado. Dessa forma, chegamos a nossa questão a ser respondida, que é: Quais sentidos constituem a profissão de professor? A partir de nossa pergunta, o objetivo desta pesquisa é investigar os sentidos de professor e entender como se configura o político nas relações de linguagem no espaço de enunciação Brasil, por meio da análise de um corpus composto por textos sobre o professor nos âmbitos das leis, do marketing e da mídia jornalística impressa, considerando a relevância desses textos na produção e circulação desses sentidos na sociedade. Para tanto, nos filiamos à Semântica do Acontecimento, teoria semântica enunciativa proposta pelo professor da Unicamp Eduardo Guimarães (2002a, 2002b, 2007, 2009, 2011, 2018), que parte do pressuposto da enunciação como um acontecimento de linguagem que produz sentido a partir de uma relação do sujeito com a língua, sendo essa relação uma prática política, pois instaura o conflito no centro do dizer. Os sentidos não são fixos nem estanques, pois são constituídos na enunciação, isto é, em cada acontecimento de linguagem, e, não são transparentes, pois o sujeito não controla os sentidos. Levantamos duas hipóteses, a primeira é de que a preocupação com a remuneração é secundária, já que ser professor é, de alguma maneira, ter um dom e, obrigatoriamente, educar por amor. E a segunda é de que os sentidos de professor são divergentes e tais divergências instauram modos de como a sociedade trata o professor. Para analisarmos nossos dados, serão considerados os pressupostos teóricos citados e serão executados os procedimentos enunciativos da Semântica do Acontecimento, a reescritura, que consiste nas maneiras em que um determinado termo é redito no texto, a articulação que implica nas relações de contiguidade de um termo com os demais termos do mesmo enunciado, o mecanismo de paráfrase que se caracteriza pela substituição pertinente de um termo por outro para testar os limites interpretativos, e por meio do Domínio Semântico de Determinação (DSD) representaremos as relações de sentido analisadas pelos procedimentos enunciativos da teoria. A corroborar com nossa hipótese, os resultados das análises apontam que os sentidos de docência como dom e amor apagam os sentidos do professor como profissional e assim não somente a remuneração, mas também a formação passa a ter papel secundário. Os resultados também apontam que os sentidos de professor estão em constante enfrentamento ao dividir e redividir o espaço de enunciação em um embate de sentidos que ultrapassa o linguístico para as práticas sociais.
Métricas
Referências
ARANHA, M. L. A. História da Educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2005.
BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral. Tradução de Maria da Glória Novak e Luiza Neri. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, v8, 1976.
BENVENISTE, E. Problemas de linguística geral II. Tradução de Eduardo Guimarães [et al]. Campinas/SP: Pontes, 1989.
BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1996.
BRASIL. Lei n.13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF., 26 jun 2014. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm.
BRASIL. Ministério de Educação e Cultura. Lei nº 12.014/2009, de 06 de agosto de 2009. Altera o art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, com a finalidade de discriminar as categorias de trabalhadores que se devem considerar profissionais da educação. Brasília: MEC, 2009.
BOUQUET, S. Introdução à leitura de Saussure. São Paulo: Cultrix, 1997.
BRÉAL, M. (1897) Ensaio de Semântica. Campinas, Pontes, 1992.
CONCLI, R. Após 20 anos, LDB não trouxe avanço pleno para educação no Brasil. In: Jornal da USP. 31/01/2017. Disponível em: jornal.usp.br/?p=65899. Acesso em: 20 de junho de 2019.
COSTA, B. C .G. O "Estado" da educação na "Folha" de jornal: como os jornais de grande circulação abordam a questão educacional. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 76, n. 184, p. 579-614, 1995.
DUCROT, O. O Dizer e o Dito. Campinas, Pontes, 1987.
DUCROT, O. Polifonía y argumentación. Cali: Universidad del Valle, 1988. (Tradução de Ana Beatriz Campo e Emma Rodríguez).
DUCROT, O. Argumentação e ‘topoi’ argumentativos. In: GUIMARÃES, Eduardo (Org.). História e Sentido na linguagem. Campinas: Pontes, 1989. (Tradução de Eduardo Guimarães)
DUBET, F. El declive de la institución: profesiones, sujetos e individuos ante la reforma Del Estado. Tradução de Luciano Padilla. Barcelona: Gedisa, 2006.
ENGUITA, M. F. A ambiguidade da docência: entre o profissionalismo e a proletarização. Revista Teoria e Educação – Dossiê: interpretando o trabalho docente, Porto Alegre, Pannonica, n. 4, p. 41-61, jan. 1991.
ESTEVE, J. M. (1995). Mudanças sociais e função docente. In: NÓVOA, António. Profissão Professor. Porto. Porto Editora. 1995. (p.93-124).
FANFANI, E. T. (Comp.). El Oficio de docente: vocación, trabajo y profesión en el siglo XXI. Buenos Aires: Siglo XXI, 2006. p. 321-339
GIRARDI, C. L.; LIMA, M. A. A. Na Bahia, quem vê cara, vê competência: reflexões sobre o REDA. In: SEMINÁRIO GEPRÁXIS, 2017, Vitória da Conquista. Anais eletrônicos. Vitória da Conquista: UESB, 2017 p 593-609. Disponível em: http://periodicos.uesb.br/index.php/semgepraxis/article/viewFile/7240/7024 Acesso em: 16 fev. 2018.
GUIMARÃES, E. Semântica do Acontecimento. Campinas-SP: Pontes. 2002a.
GUIMARÃES, E. Os limites do sentido: um estudo histórico e enunciativo da linguagem. Campinas, Pontes. 2 ed. 2002b.
GUIMARÃES, E. Domínio Semântico de Determinação. A Palavra: Forma e Sentido. Campinas, RG/Pontes. 2007.
GUIMARÃES, E. A enumeração: funcionamento enunciativo e sentido. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 51, n. 1, p. 49-68, 2009.
GUIMARÃES, E. Análise de texto: procedimentos, análises, ensino. Campinas, SP: Editora RG, 2011.
GUIMARÃES, E. Semântica: enunciação e sentido. Campinas-SP: Pontes, 2018.
LAGAZZI, S. O recorte significante na memória. Apresentação no III SEAD –Seminário de Estudos em Análise do Discurso, UFRGS, Porto Alegre, 2007. In: O Discurso na Contemporaneidade. Materialidades e Fronteiras. INDURSKY, F.,FERREIRA, M. C. L. & MITTMANN, S. (orgs.). São Carlos, Claraluz, 2009.
LEAL, R. R. O sentido de pessoa com deficiência no estatuto da pessoa com deficiência em comparação aos jornais de grande circulação. Dissertação (Mestrado em Linguística). Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Vitória da Conquista, BA. 2019.
LIBÂNEO, J. C. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e profissão docente. 13.ed. São Paulo: Cortez, 2000.
LOURO, G. L. Mulheres nas Salas de Aula. In. Mary Del Priore (org.) História da Mulher no Brasil. São Paulo, Contexto, 1997.
MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. São Paulo: Boitempo, 2007.
MEJÍAS, M. R. Reconfiguración de la pedagogía, pedagogías críticas y movimientos pedagógicos en el contexto educativo actual, Ponencia presentada al Encuentro Nacional de Movimiento Pedagógico, Colegio de Profesores de Chile, Santiago de Chile, del 13 al 15 de enero. 2010.
NOVAES, M.E. Professora primária: mestra ou tia. 5ª ed., São Paulo, Cortez: Autores Associados, 1992.
NÓVOA, A. (Org.). Os professores e a sua formação. Lisboa: Publicações D. Quixote, 1993.
NÓVOA, A. O passado e o presente dos professores. In: NÓVOA, Antônio (Org.). Profissão Professor. 2a ed., Porto, Porto Editora, 1995. . (p.13-34).
NÓVOA, A. Professores: imagens do futuro presente. Lisboa: Educa, 2009.
OLIVEIRA, S. E. de. Cidadania: história e política de uma palavra. Sínteses (UNICAMP), Campinas/SP, v. 10, p. 419-430, 2005.
NÓVOA, A. Sobre o Funcionamento do político na linguagem. Línguas e Instrumentos Linguítiscos – Nº 34 - jan-jun 2014.
ORLANDI, E. P. Língua e conhecimento linguístico: para uma história das ideias no Brasil. São Paulo: Cortez, 2002.
ORLANDI, E. P. Análise de Discurso: princípios & procedimentos. 8. ed. Campinas: Pontes, 2005. 100p
PAYER, M. O. Linguagem e sociedade contemporânea – sujeito, mídia, mercado. Revista Rua, Campinas, v.11, n.1, p. 09-25. Set.2005.
SAUSSURE, F. (1916) Curso de linguística geral. 28.ed. São Paulo: Cultrix, 2012.
SELLA, C. A. Retratos de um profissional em crise: os docentes em tempos de mudança. 2006. 123f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, 2006.
SIGLIANI, L. C. de S.; VENTURA, A. O embate de sentidos do termo Professor: uma análise semântica de propagandas veiculadas pelo MEC. Revista Palimpsesto, Rio de Janeiro, v. 18, n.31, p.87-107, 2019.
SIGLIANI, L. C. de S.; VENTURA, A. O político nas relações de sentido: uma análise semântica do termo professor na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n° 9.394/96. Revista Investigações, Recife, v.33, p. 1-23, 2020.
SOUZA, D. S. Sentidos de impeachment no caso Dilma Rousseff: um estudo semântico. Dissertação (Mestrado em Linguística). Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Vitória da Conquista, BA. 2019.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
TARDIF, M.; LESSARD, C. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. 2. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
VENTURA, Adilson. O Sentido: uma questão ética. In: Linguagem e significação: práticas sociais. Volume 2. Campinas, SP: Pontes Editores, 2018.
VICENTINI, P. P; LUGLI, R G. História da profissão docente no Brasil. São Paulo, SP: Cortez, 2009.
ZOPPI-FONTANA, M. Cidadãos modernos. Discurso e representação política. Campinas, Editora da UNICAMP, 1997.
ZOPPI-FONTANA, M. Pós-verdade: léxico, enunciação e política. Linguagem e Significação: práticas sociais, 01/2018, ed. 1, PONTES, Vol. 2, pp. 34, pp.133-166, 2018.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Categorias
Licença

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.