DISCURSO, RELIGIÃO E POLÍTICA: FUNCIONAMENTO DISCURSIVO DO PORTA-VOZ NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2018

Autores

DOI:

https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2021.v9i1.219

Palavras-chave:

Discurso. Política. Porta-voz. Religião.

Resumo

Neste trabalho, apresentamos resultados de uma pesquisa que objetivou analisar como se constituiu a relação entre o discurso político e o discurso religioso na campanha eleitoral 2018, considerando as campanhas dos candidatos José Maria Eymael (DC), Cabo Daciolo (Patriota), Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). O corpus da pesquisa foi constituído por recortes de materialidades linguísticas que compõem os planos de governo e as publicações, feitas nas redes sociais Twitter e Facebook, desses candidatos, e por excertos de reportagens que tratam das eleições, veiculados na mídia digital, no período de 16 de agosto a 27 de outubro de 2018, período que corresponde à campanha eleitoral do referido ano. A hipótese que guiou a pesquisa é a de que, no acontecimento discursivo da campanha das eleições presidenciais de 2018, a relação entre o discurso político e o discurso religioso se estabelece com base no funcionamento do lugar discursivo do porta-voz, que se constitui a partir das diferentes posições-sujeito nas quais os sujeitos políticos se subjetivam como candidatos à presidência. Para averiguar essa hipótese, realizamos a análise discursiva das materialidades, com base nos pressupostos teóricos da Escola Francesa de Análise de Discurso, principalmente, nas noções de posição-sujeito e de porta-voz. Os resultados indicam que, no acontecimento discursivo da campanha eleitoral de 2018, os quatro candidatos, apesar de se referirem a uma coletividade, na ilusão de uma totalidade uniforme, não representam a vontade coletiva de um suposto povo brasileiro uno e indiviso, pois a forma de se identificarem com o lugar discursivo do porta-voz aponta para a deriva de sentidos, indicando que essa suposta unidade do “povo brasileiro” é apenas um efeito relacionado à ilusão subjetiva. Assim, nessa ilusória representação de uma coletividade, os porta-vozes da campanha eleitoral de 2018 se constituem por meio das diferentes posições-sujeito que ocupam, enunciam a partir delas e em nome daqueles que se identificam com essas mesmas posições. É nesse funcionamento do lugar discursivo do porta-voz que se estabelece a relação entre o discurso político e o discurso religioso, pois os quatro candidatos, como agentes da mudança, ao apresentarem propostas políticas para o país, ocupam posições-sujeito que associam as práticas políticas a questões religiosas, o que ocorre com base em diferentes funcionamentos discursivos.

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Publicado

20-12-2021