O FUNCIONAMENTO DISCURSIVO DAS FAKE NEWS EM TEMPOS DE PANDEMIA: UMA TRAMA DE (NÃO)SENTIDOS EM/NAS REDES DIGITAIS
DOI:
https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2023.v11i1.250Palavras-chave:
Discurso Fake News. Pandemia da Covid-19. Negacionismo científico. Discurso Digital. Resistência.Resumo
No final de 2019 e início do ano de 2020, o mundo foi surpreendido com o novo Coronavírus, que se espalhou rapidamente, instaurando uma pandemia, que levou à morte 704.159 mil pessoas até maio de 2023, somente no Brasil. Nessa conjuntura, diariamente, eram produzidas e postas em circulação, nas mídias sociais digitais, notícias falsas sobre variados temas relacionados à pandemia, especialmente referentes ao tratamento e combate à Covid-19, a exemplo do uso de remédios caseiros, uso de máscaras, isolamento social, vacinas, causando também uma situação de infodemia. Assim, com base nas inquietações sobre os discursos fake news em circulação na pandemia, suscitamos a seguinte questão-central para este estudo: como funcionam os discursos de fake news sobre a pandemia da Covid-19 e seu enfrentamento, em circulação nas mídias digitais, no período de 2020 a 2022? O objetivo geral consiste em analisar o discurso das fake news sobre a pandemia da Covid-19 – e seu enfrentamento – em circulação nas mídias digitais, a fim de observar os efeitos de sentidos, as posições-sujeito e os confrontos discursivos instaurados na trama. O corpus constitui-se por postagens publicadas nas redes sociais, como Facebook, Instagram, Twitter e Whatsapp, republicadas em sites das agências de checagem jornalística, como Fato ou Fake, “LUPA” e “Aos Fatos”, após confirmadas como falsas. O estudo ancora-se na Análise de Discurso de filiação pecheuxtiana, além de contribuições da área da Comunicação e dos estudos sobre o discurso digital. Os resultados apontam que o funcionamento discursivo das fake news é afetado pelas condições de produção das mídias digitais, que alavancam a repetição e circulação massiva dos discursos, de forma a dificultar o controle das notícias falsas; o discurso funciona com efeitos de veracidade e de legitimidade, é afetado pela memória e pelo discurso do senso comum, sofre determinações ideológicas, tendo em vista as relações de poder, na conjuntura política e econômica do país. Na trama discursiva, funciona uma posição-sujeito de antagonismo e negacionismo ao discurso científico. Todavia, os sentidos escapam nos furos da rede, e assim instauram-se os confrontos discursivos nos comentários digitais e os efeitos de resistência, em especial, pelo viés do discurso jornalístico de checagem de notícias falsas.
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