A REPETIÇÃO NA ORALIDADE: UMA ANÁLISE FUNCIONAL NO PORTUGUÊS CULTO DE VITÓRIA DA CONQUISTA

Autores

DOI:

https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2017.v5i1.116

Palavras-chave:

Repetição, Oralidade, Funcionalismo, Cognição

Resumo

Nesta pesquisa, investigamos um recurso frequentemente utilizado na oralidade: a repetição, compreendendo-a como um mecanismo que auxilia na interação, gerando novos significados, de modo que a retomada ocorra não somente no campo formal, mas, também, no campo semântico. Para tanto, baseamo-nos, sobretudo, nos estudos funcionalistas de Ramos (1983), Oliveira (1998) e Castilho (2014); em pressupostos da Linguística Cognitiva apresentados por Lakoff e Johnson (1998) e Ferrari (2011); e em estudos da Linguística Textual, à luz de Nóbrega (2011) e Marcuschi (2015). O nosso objetivo, com este trabalho, foi identificar como os informantes do Português Culto de Vitória da Conquista – Corpus PCVC, criado pelo Grupo de Pesquisa em Linguística Histórica e em Sociofuncionalismo – utilizam a repetição na construção do texto falado. Partindo do pressuposto de que a repetição é um mecanismo muito produtivo na fala, analisamos quatro entrevistas desse corpus, sendo considerados 30 minutos de cada uma delas. Elencamos 07 funções microestruturadoras: a reconstituidora I, a reconstituidora II, a distribuidora, o reforço, a intensificadora, o contraste e a temporalização; sendo que, na função distribuidora, há 04 subfunções: a retificação, a paralelização, a enumeração e o desdobramento. No estudo qualitativo, constatamos que a repetição é um recurso de suma importância para a condução e manutenção do tópico discursivo, para a coesão e argumentatividade do texto falado e para a compreensão do ouvinte e que, além de ser um processo metafórico, constitui-se também como um processo metonímico, o qual ocorre entre subdomínios, desde que estes façam parte de um domínio-matriz. Na análise quantitativa, verificamos que a paralelização, em linhas gerais, foi o aspecto funcional mais frequente e os menos recorrentes foram a reconstituidora I e a reconstituidora II. Em suma, a repetição é a consequência da relação entre forma e função, sendo, assim, um processo que possibilita a organização da experiência humana, chegando ao âmbito textual por meio dos atos de fala e produzindo, cognitivamente, estruturas linguísticas dispostas em camadas. Este estudo é relevante, pois, além de demonstrar como os falantes do Português Culto de Vitória da Conquista utilizam o recurso da repetição na interação discursiva, traça um diálogo entre várias linhas de pesquisa, principalmente, entre o Funcionalismo e a Linguística Cognitiva, constatando que a repetição é um processo metonímico, contribuindo, assim, para futuras pesquisas sobre o objeto de estudo em questão, podendo cooperar na formulação de hipóteses e no diálogo entre os resultados obtidos.

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Publicado

30-12-2017