A QUESTÃO DA CATEGORIZAÇÃO MORFOLÓGICA PARA NOME E VERBO EM LIBRAS

Autores

DOI:

https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2019.v7i1.168

Palavras-chave:

Aquisição da Linguagem, Libras, Categorias Gramaticais, Nome e Verbo, Contexto Sintático, Variação Morfológica

Resumo

Esta dissertação tem como objetivo investigar se há distinção gramatical, foneticamente realizada, entre as categorias nome e verbo em Libras. A fim de verificar a existência ou não de morfemas categorias para nome e verbo em Libras, realizamos uma investigação por meio de um teste com imagens em contexto, no intuito de eliciar frases em Libras contendo os 25 pares de nome e verbo a serem analisados. O teste foi aplicado a 10 surdos (4 com aquisição da língua no período considerado crítico e 6 com aquisição em período considerado tardio) e também 9 ouvintes que adquiriram a Libras como L2, perfazendo um total de 19 sujeitos[1]informantes. Para constituição do aporte teórico, fundamentamo-nos na Teoria Gerativa e seus estudos de aquisição da linguagem (CHOMSKY, 1995; KATO, 2005), bem como estudos a respeito da gramática da Libras (SUPALLA; NEWPORT, 1978; QUADROS; KARNNOP, 2004; PIZZIO, 2011; LESSA-DE-OLIVEIRA, 2012). Diversamente ao que propõem alguns autores, como Quadros e Karnopp (1994), que assumem que existe distinção entre nome e verbo a partir do parâmetro de movimento (curto e reduplicado para nome, e único e alongado para verbo), defendemos a hipótese de que a Libras não possui marcas morfofonológicas definidoras de categorias gramaticais. Com base nessa perspectiva, assumimos que os sinais são desprovidos de qualquer material morfofonológico. A transcrição dos dados se deu via Sistema de Escrita para Línguas de Sinais-SEL, desenvolvido por Lessa-de-Oliveira (2012). Este sistema de escrita foi de grande importância, porque a SEL captura a estrutura interna do sinal. Os resultados de nossa análise evidenciam que em Libras, em termos de articulação, o sinal pode ocorrer em posição nominais ou verbais com a mesma articulação, ou seja, a diferença categorial não se dá por marcas morfológicas articuladas. Verificamos que diferenças categoriais, como as apontadas por Quadros e Karnopp (Ibidem), apresentam-se em volume muito irrisório. Dessa forma, com base nos resultados de nossos dados e na pesquisa de Pizzio (Ibidem), assumimos que tais diferenças não constituem um paradigma produtivo em Libras. Sendo assim, as variações encontradas são de natureza estilística ou decorrentes do contexto semântico-pragmático. Por tanto a categorização nesta língua se dá de forma estrutural, definida dentro do contexto sintático, independentemente do período ou contexto de aquisição de seus falantes.

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Publicado

30-12-2019