O ESTILO TELEGRÁFICO NA ESCRITA DE SUJEITOS COM SÍNDROME DE DOWN

Autores

DOI:

https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2020.v8i1.199

Palavras-chave:

Síndrome de Down, Linguagem, Estilo Telegráfico, Escrita

Resumo

O objetivo desta pesquisa foi analisar a linguagem de dois sujeitos com Síndrome de Down (SD), em situações dialógicas, com foco no estilo telegráfico. O trabalho tem como base os pressupostos da Neurolinguística Discursiva (ND) – (COUDRY 1986) e da Teoria Histórico[1]Cultural (THC) – Vygostky (1997). A THC considera o desenvolvimento como um processo constituído nas relações sociais e entende que, mesmo as crianças com SD, podem aprender. Trata-se de uma pesquisa longitudinal, apresentada em forma de estudo de caso e tem como objetivo identificar, analisar e fazer intervenções no funcionamento da linguagem dos sujeitos JR de 20 anos e RL de 15 anos, ambos apresentam em sua escrita e na oralidade o “estilo telegráfico” (JAKOBSON, 1970). O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Pesquisa e Estudos em Neurolinguística (LAPEN), situado na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) em Vitória da Conquista – Bahia. Os dados de fala e da escrita desses jovens foram coletados em seções semanais. Os atendimentos aconteciam em dupla e individualmente, com duração de uma hora; os dados das produções orais e escritas foram gravados em celular digital Samsung J7 prime e obtidos em situações discursivas. Iniciamos as produções com fábulas ilustradas, leitura, reconto da fábula. Ao longo dos atendimentos, observou-se que JR e RL não utilizavam conectivos nas produções escritas, mas utilizavam na oralidade quando formulavam enunciados mais curtos em situações dialógicas, ou seja, nestas utilizavam todos os elementos de uma frase, mas, naquelas apresentavam excesso de seleção, utilizavam mais substantivos e verbos em detrimento de elementos de combinação (uso de pronomes, preposições). Dessa forma, intensificamos a intervenção para que os sujeitos pudessem perceber que existem elementos que precisam estar na composição da frase. Para análise do fenômeno “estilo telegráfico”, nos valermos de noções advindas da morfologia, a iniciar pela própria definição de estilo telegráfico de Jakobson (1970) e a concepção de classes fechadas e classes abertas, bem como aspectos do nível morfológico. Ainda, focalizamos as diferenças formais e funcionais entre textos orais e escritos com base em Kato (2003). A discussão apresentada neste trabalho pode contribuir significativamente para o processo de aquisição da linguagem de crianças com síndrome de Down e casos semelhantes ao de JR e RL.

Métricas

Carregando Métricas ...

Referências

ABAURRE, M. B.; COUDRY, M. I. H. Em torno de sujeitos e olhares. Estudos da Lingua(gem), Vitória da Conquista, v. 6, n.2, p. 171-191, 2008. ISSN: 1982-0534. DOI: https://doi.org/10.22481/el.v6i2.1071. Disponível em: http://periodicos2.uesb.br/index.php/estudosdalinguagem/article/view/1071/920. Acesso em: 10 jun. 2019.

ARANHA, M. S. F. Integração social do deficiente: análise conceitual e metodológica. Temas em Psicologia, Ribeirão Preto, v. 3, n. 2, 1995.

BARRETT, M. Desenvolvimento lexical inicial. In: FLETCHER, P.; MACWHINNEY, B. (orgs.). Compêndio da Linguagem da criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

BLOOM, L. One word at a time: The use of single-word utterances before syntax. The Hague: Mouton, 1973.

BORGHI, R. W. Consonant phoneme, and distinctive feature error patterns in speech. In: BELLUGI, U.; BROWN, R. TheAcquisition of Language. Chicago and London: University of Chicago Press, 1964.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). 25. ed. Brasília: Câmara dos Deputados, Coordenação de Publicações, 2005.

BROWN, R.; FRASER, C. The acquisition of syntax. In: BEDLLUGI; BROWN, R. The Acquisition of Language. Chicago and London: University of Chicago Press, 1964.

CAMARGO, E. A. A. Era uma vez… o contar histórias em crianças com Síndrome de Down. 1994. Dissertação (Mestrado em Linguagem) – Instituto de Estudo da

Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, 1994.

CÂMARA Jr., J. M. Problemas de Lingüística Descritiva. 29. ed. Petrópolis: Vozes, 1970-2008.

CERQUEIRA, C. V. Aquisição de Possessivos. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, p. 47-69, 1999.

CORREA, L. M. S.; AUGUSTO, M. R. A. Aquisição da Linguagem e Problemas do

Desenvolvimento Linguístico. São Paulo: Edições Loyola/ Rio de Janeiro: Editora da Puc-

Rio, 2006.

COSTA, S. R. Dicionário de Gêneros Textuais. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2008.

COUDRY, M. I. H. A ação Reguladora da interlocução e de operações epilinguísticas sobre

objetos linguísticos. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, p. 117-135, 1986.

COUDRY, M. I.; POSSENTI, S. (orgs). Saudades da Língua: a linguística e os 25 anos do Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas: Mercado de Letras, 2003. p. 361-369.

COUDRY, M. I. H. O que é dado em neurolinguística? In: CASTRO, M. F. C. P. (org.). O método e o dado no estudo da linguagem. Campinas: Unicamp, 1991/1996. p. 179-194.

COUDRY, M. I. H. Neurolinguística Discursiva: afasia como tradução (Discursive Neurolinguistics: aphasia as translation). Estudos da Língua(gem), [S. l.], v. 6, n. 2, p. 7-36, 2008. ISSN: 1982-0534. DOI: https://doi.org/10.22481/el.v6i2.1065. Disponível em: https://periodicos2.uesb.br/index.php/estudosdalinguagem/article/view/1065. Acesso em: 8 jul. 2019.

COUDRY, M. I. H.; BORDIN, S. S. Ambientes discursivos na afasia e na infância (Discursive environments in aphasia and childhood). Estudos da Língua(gem), [S. l.], v. 17, n. 1, p. 9-22, 2019. ISSN: 1982-0534. DOI: https://doi.org/10.22481/el.v17i1.5295. Disponível em: https://periodicos2.uesb.br/index.php/estudosdalinguagem/article/view/5295. Acesso em: 7 out. 2019.

COUDRY, M. I. H.; FREIRE, F. M. P. O trabalho do cérebro e da linguagem. Campinas: Cefiel/Iel/Unicamp - Brasília: Ministério da Educação, 2005/2006.

CUILLERET, M. Lês trissomoquesparminous ou lês mongoliesn ne sontlus. 2. ed. France:

Simep, rue de Beuxelles, 1984.

DUARTE, N. Educação escolar, teoria do cotidiano e a escola de Vygotsky. 4. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2007. (Coleção polêmicas do nosso tempo, v. 55).

FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Los sistemas de escritura em El desarrollo del niño. Cidade do México: Siglo Veintiuno Editores, 1970.

FLETCHER, P.; WHINNEY, B. M. Compêndio da linguagem da criança. Porto Alegre:

Artes Médicas, 1977.

FONSECA, S. C. Afasia: A Fala em Sofrimento. 1995. Dissertação (Mestrado) – LAEL/ PUC/ SP, 1995.

FRANCHI, C. Linguagem – Atividade Constitutiva. Cadernos de Estudos Linguísticos,

Campinas, n. 22, p. 9-39, 1992.

FREITAS, A. P.; MONTEIRO, M. I. B. Questões textuais em adolescentes com síndrome de

Down. Revista Brasileira de Educação Especial, Marília (SP), v. 1, n. 3, p. 53-62, 1995.

GALUCH, M. T. B.; SFORNI, M. S. F. Aprendizagem conceitual e apropriação da linguagem escrita: contribuições da teoria histórico-cultural. Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 20, n. 42, p. 111-124, jan./abr. 2009.

GHIRELLO-PIRES, C. S. A.; LABIGALINI, A. P. V. Síndrome de Down: funcionamento e

linguagem. In: COUDRY, M. I. H.et al. Caminhos da Neurolinguística discursiva: teorização e práticas com a linguagem. Campinas: Mercado Livre, 2010. p. 357-376.

GHIRELLO-PIRES, C. S. A. A inter-relação fala, leitura e escrita em duas crianças com

Síndrome de Down. 2010. 130fl. Tese (Doutorado) – Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, 2010.

GHIRELLO-PIRES, C. S. A.; MORESCHI, S. Especificidades no acompanhamento inicial em crianças com Síndrome de Down: uma abordagem histórico-cultural, 2015.

GHIRELLO-PIRES, C. S. A. Gênese do preconceito e implicações no funcionamento de linguagem na Síndrome de Down (Genesis of prejudice and implications in the operation of language in Down Syndrome). Estudos da Língua(gem), v. 9, n. 1, p. 105-135, 2011. ISSN: 1982-0534. DOI: https://doi.org/10.22481/el.v9i1.1142. Disponível em: https://periodicos2.uesb.br/index.php/estudosdalinguagem/article/view/1142. Acesso em: 7 out. 2019.

GINZBURG, C. Mitos emblemas sinais: morfologia e história. Tradução de F. Carotti.

São Paulo: Companhia das Letras, 1986.

GOLDFIELD, B. A.; REZNICK, J. S. (1990). Early lexical aquisition: Rate, content and the

vocabulary spurt. Journal of Child Language, 17, 171 – 183.

GUNN, P. Speech and language. In: LANE, D.; STRATFORD, B. Current aproches to Downs sydrome. London: Penguin Bos, 1985.

GUNN, P. Speech and language. In: LANE, D.; STRATFORD, B. Current aproches to Downs Sydrome. London: British, Library Cataloguing in publication. 1985.

HALLIDAY, M. A. K. Learning how to mean: Explorations in the development of language. London: Edward Arnold, 1975.

ILARI, R. Palavras de Classe Aberta. São Paulo: Contexto, 2014.

INFOPEDIA. Dicionários Porto Editora. Disponível em: https://www.infopedia.pt/login?ru=apoio/artigos/$telegrafo. Acesso em: 16 out. 2019.

JAKOBSON, R. Linguística e Comunicação. Tradução de I. Blikstein e J. Paulo Paes.

São Paulo: Cultrix, 1969/1970.

JAKOBSON, B. Dois aspectos da linguagem e dois tipos de afasia: lingüística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 1975. 1956

JAKOBSON, R. Linguística e Comunicação. São Paulo: Editora Cultrix, 1954.

LEONTIEV, A. O desenvolvimento do psiquismo. 2. ed. São Paulo: Centauro, 2004.

LIMA, R. A Linguagem Infantil: Da Normalidade à Patologia. Braga Edições APPACDM, Distrital de Braga, 2000.

LURIA, A. El Cérebro em Acción. Barcelona: Fontanella, 1976.

LURIA, A. Higher Cortical Functions in Man. Nova Iorque: Basic Books, 1980.

LURIA, A. R. O papel da linguagem na formação de conexões temporais e a regulação do comportamento em crianças normais e oligofrênicas. In: LURIA, A. R. et al. Psicologia e pedagogia: bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento. 2005, p. 107-125.

LURIA, A. R. Neuropsichological studies in afasia. Amsterdam: Swets & Zeitlinger, 1977.

KATO, M. A. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística. 7. ed. São Paulo: Ática, 2003.

MEYERS, F. L. Using computers to teach children whith Downs syndrome spoken and

written language skills. The Psicobiology of Down syndrome, 1990.

MAYERS, L. Language development and intervention. In: KUKE, D. C.V et al. Clinical

perspectives in the manegement of Down Syndrome. New York: Springer Verlag, 1989.

MILLER, J. F. Language and comunication caracteristics of Down syndrome. In: PUESCHEL, S. M. New perspectives on Down syndrome. London: Paulh Brookes Publishing, 1987.

MONTEIRO, M. I. B. A dinâmica do Diálogo de crianças portadoras de Síndrome de Down. São Paulo. 1992. Tese (Doutorado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, Universidadede São Paulo, 1992.

MORATO, E. Neurolinguística. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (orgs.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001. p. 143-169.

MOTTA, P. A. Genética médica. 2. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1980.

MUSTACCHI, Z. Síndrome de Down. In: MUSTACCHI, Z.; PERES, S. (Org.). Genética baseada em evidências: síndromes e heranças. São Paulo: CID editora, 2000. p. 817-894.

NELSON, K. (1973b). Some evidence for the cognitive primacy of categorization and its functional basis. Merril-Palmer, Quarterly, 19, 21-39.

OLIVEIRA, M. K. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1997.

OTTO, P. G. et al. Genética humana e clínica. São Paulo: Roca, 1998.

PASSOS, A. P. S. et al. Adquirindo as primeiras palavras: categorias abertas e fechadas e as primeiras combinações. In: BERNARDO, S.; AUGUSTO, M. R. A.; VASCONCELOS, Z. Linguagem: teoria, análise e aplicações (6). 1. ed. Rio de Janeiro: Programa de Pós-Graduação em Letras – UERJ, 2011.

PERRONI, C. M. Desenvolvimento do Discurso Narrativo. São Paulo: Martins Fontes,

PESSOTI, I. Deficiência Mental: da superstição à ciência. Marília: ABPEE, 2012.

REGO, T. C. Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

RIGOLET, S. A. Os três P: Precoce, Progressivo, Positivo. Comunicação e Linguagem para

uma Plena Expressão. Porto: Porto Editora, 2000.

RONDAL, J. A. Language in Down’ssyndrome: a life-spanandmodularity. Rassegna Italiana di Linguistica Aplicada, Roma: Bulzonieditore, 1991.

SAUSSURE, F. Escritos de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 2002.

SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 1916.

SCARPA, E. M. Aquisição da Linguagem. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (orgs.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001. p.203-232.

SCHWARTZMAN, J. S. Síndrome de Down. São Paulo: Memnon, 1999.

SILVA, N. M. A conquista da autonomia de JR por meio de suas apropriações linguísticas. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Programa de Pós-Graduação em Linguística, 2016.

STRATFORD, B. Down´s syndrome: past, present and future a understanding and positive guide for families, friend and professionals. London: Penguin Books, 1989.

VILLALVA, A. Morfologia do português. Lisboa: Universidade Aberta, 2007.

VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R. El Instrumento y el Signo em el Desarrollo del

Niño. FundaciónInfancia y Aprendizaje, Madrid, 2007.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

VYGOTSKY, L. S. A construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo:

Martins Fontes, 2001.

VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo, Martins Fontes, 1987.

VYGOTSKY, L. S. Fundamentos de defectología. Madrid: Visor, 1997. Obras

escogidas, v. V.

VYGOTSKY, L. S. Formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1932-

/1983.

Downloads

Publicado

30-12-2020