CONFLITO COMO FUNDAMENTO DAS PRÁTICAS SOCIAIS: UMA ANÁLISE DOS SENTIDOS DE PROFESSOR, FORMAÇÃO DO ESTUDANTE E CIDADANIA

Resumo

Este trabalho consiste em uma análise semântico-enunciativa à luz da Semântica do Acontecimento no tocante às relações de sentido entre professor e cidadania. A partir da premissa de trajeto temático (Guilhaumou; Maldidier; Robin, 1994 apud Zoppi-Fontana, 2018); utilizamos textos jurídicos, textos do marketing e textos da mídia jornalística acerca de políticas públicas educacionais e em contato com essas leituras ponderamos analisar quais relações de sentido orbitam entre professor e cidadania, uma vez que essas palavras estão presentes nos textos observados. Dessa forma nos dedicamos a responder seguinte indagação: Por meio da análise das relações enunciativas em tais textos, quais sentidos podem ser observados entre professor e cidadania no corpus investigado, quais sentidos são constituídos? Mediante nosso questionamento, levantamos a hipótese de que a cidadania é uma questão central e constitui sentidos de professor e de formação dos estudantes. Para empreendermos a análise dos sentidos de professor e cidadania no corpus selecionado, recorremos aos pressupostos teóricos e metodológicos da Semântica do Acontecimento (Guimarães, 2002b, 2018), teoria semântico-enunciativa que toma a enunciação como um acontecimento de linguagem que produz sentido a partir de uma relação do sujeito com a língua, sendo essa relação atravessada pelo político, pois se instaura o conflito no cerne do dizer. Os sentidos não são fixos nem estanques, pois são constituídos na enunciação, isto é, em cada acontecimento de linguagem, e, não são transparentes, pois o sujeito não controla os sentidos daquilo que diz. Para analisarmos nossos dados, lançamos mão de procedimentos metodológicos da teoria como a reescrituração, a articulação e do Domínio Semântico de Determinação (DSD), além disso, contamos com o mecanismo de paráfrase apontado por Guimarães (2011) como mecanismo de análise para a Semântica do Acontecimento e desenvolvido por Souza (2019) e Souza e Ventura (2022). As análises empreendidas corroboram nossa hipótese e apontam para um conflito de sentidos que divide e redivide o espaço de enunciação em uma relação de inclusão e exclusão da cidadania em relação ao professor e aos estudantes. Apesar de a profissão docente ser reconhecida como fundamental para uma educação cidadã, o professor é posto como único responsável em promovê-la, enquanto sentidos de meritocracia são instaurados no tocante à formação dos estudantes e a cidadania é dada como uma categoria estanque do currículo. Tais sentidos responsabilizam professores e alunos e apagam sentidos da função das políticas para a formação cidadã e para a valorização da profissão docente.