SINTAXE DOS DETERMINANTES NA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS E ASPECTOS DE SUA AQUISIÇÃO
DOI:
https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2014.v2i1.45Palavras-chave:
Língua brasileira de sinais, Localizadores, Teoria gerativa, Aquisição de librasResumo
O presente estudo tem como objetivo investigar a natureza categorial de certos elementos recorrentes na língua brasileira de sinais (libras), os quais tratamos como Localizadores (Loc ou Locs). Estes elementos, caracterizados como estruturas eminentemente dêiticas, são usados para a “apontação” de referentes no mundo físico. Ancorando nosso estudo nos postulados teóricos gerativistas, defendemos a hipótese de que estes elementos são núcleos determinantes (núcleos D), por terem a característica principal de marcação de referentes, subcategorizando, dessa forma, itens nominais (NPs) realizados, ou ocorrendo como proformas (com NPs vazios). A fim de delimitar as propriedades gramaticais desses elementos, realizamos uma ampla descrição dos Locs tanto no seu aspecto articulatório, quanto gramatical, observando dados compostos por narrativas em libras realizadas por pessoas surdas falantes dessa língua, bem como testes de aceitabilidade feitos com os mesmos informantes. O corpus da pesquisa foi constituído a partir de três diferentes perfis de aquisição da libras: a) sujeito-informante surdo de família ouvinte com aquisição da libras na infância, a partir dos 6 anos de idade (SI1); b) sujeito-informante surdo de família surda, com aquisição da libras na primeira infância, a partir do nascimento (SI2); e c) sujeito-informante surdo de família ouvinte, com aquisição da libras tardia, a partir do início da adolescência (SI3). Para a transcrição de dados utilizamos o sistema de escrita de libras SEL elaborado por Lessa-de-Oliveira (2012), e transcrição por glosas, além de interpretação das sentenças. Para a análise das propriedades gramaticais dos Locs adotamos a hipótese da unidade mínima de articulação dos sinais MLMov (Mão – Locação – Movimento), proposta por Lessa-de-Oliveira (2012). Essa unidade, juntamente com a transcrição em escrita SEL (sistema elaborado a partir da unidade MLMov) nos permitiu acesso à forma articulada dos sinais e da sentença em libras, e, consequentemente, às propriedades gramaticais relacionadas ao modulo articulatório da língua, ampliando a nossa condição de análise. Assim, com base nos estudos acerca da categoria dos determinantes realizados por Abney (1987) e Longobardi (1994), dentre outros autores, propomos que os Locs em libras são elementos pertencentes à categoria DP. E, com base nos estudos de Béjar (2003) e Carvalho (2008) acerca da geometria de traços que compõem os pronomes, em línguas orais, propomos que as diversas ordem entre Locs, nomes (N), possessivos (Pos) e quantificadores (Q), encontradas nos dados da libras estudados, são decorrentes da necessidade de checagem dos traços [D] e [φ], presentes na sonda, pelos alvos Loc, Pos, Q ou por N, os quais devem ter a condição de checar o traço de [Dêixis]. Ainda, com base nos estudos de Torrego (1988) a cerca da elipse nominal, legitimada por certos traços, e de Lobeck (1995) que concebe a elipse nominal como um N vazio (pro), propomos que os Locs proformas (ou pronomes) em libras são resultado de Loc+elipse nominal. Essa análise nos leva a conclusão de que há em libras três tipos de Locs: tipo 1 – posposto ao nome, com baixa especificação; tipo 2 – anteposto ao nome, com especificação mediana; e tipo 3 – proformas, altamente especificado. Por fim, levando em consideração os estudos sobre aquisição pronominal, desenvolvidos por Lightfoot (1991) e Kato (2000), observamos que a aquisição de nomes eLocs (incluindo os Locs proformas) pela criança surda parece seguir o mesmo caminho seguido pela criança ouvinte adquirindo nomes e pronomes em línguas orais. Pelo que os dados indicam, a aquisição em libras parece começar por nomes nus (bare nouns) antes dos pronomes, e a alta especificação de traços dos Locproforma (tipo 3) seria o gatilho para aquisição desses antes da aquisição dos outros dois tipos de Locs (tipos 1 e 2). Ou seja, a aquisição de nomes e Locs, em libras, vai de estruturas pragmáticas (interpessoal) para estruturas gramaticalizadas mais abstratas.
PRADO, Lizandra Caires do. Sintaxe dos determinantes na língua brasileira de sinais e aspectos de sua aquisição. Orientadora: Adriana Stella Cardoso Lessa de Oliveira. 2014. 162f. Dissertação (mestrado em Linguística) – Programa de Pós-graduação em Linguística, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Vitória da Conquista, 2014. DOI: https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2014.v2i1.45. Acesso em: xxxxx
Métricas
No metrics found.
Referências
ABNEY, S. P. The English noun phrase in sentential aspects. Ph.D. dissertation. Massachusetts: MIT, 1987.
ALMEIDA, Maria Antonieta P. Tigre. Aquisição de Sentenças na Língua Brasileira de Sinais. Dissertação para obtenção do título de Mestre em Linguística, UESB. Bahia: Vitória da Conquista, 2013.
AUGUSTO, Marina R. A. Marcação de número e genericidade: interpretação genérica na aquisição do PB. Revista Letras Hoje. V. 42, nº1, p. 35-51. Porto Alegre, 2007.
ARNAULD, Antoine; LANCELOT, Claude. Gramática de Port-Royal. BASSETTO, Bruno Fregni; MURACHEO, Henrique Graciano (Trad.). 2ª ed.. São Paulo. Ed. Martins Fontes, 2001.
BARROS, Mariângela Estelita. ELiS. Escrita das línguas de sinais: proposta teórica e verificação prática. 197f. Tese de Doutorado em Linguística. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis: UFSC, 2008.
BATTISON, R. Phonological deletion in American sign language. Sign Language Studies, v.5, 1974.
_____. Lexical borrowing in American sign language. Silver Spring, MD: Linstok, 1978.
BÉJAR, S. Phi-syntax: a teory of agreement. PhD. Dissertation. Universiy of Toronto, 2003.
BENVENISTE, E. Problemas de lingüística geral I. 4. ed. Tradução em português: Maria da Glória Novak e Maria Luisa Néri. Campinas. Pontes: 1976.
_____. Problemas de lingüística geral II. 4. ed. Tradução em português: Maria da Glória Novak e Maria Luisa Néri. Campinas. Pontes: 1976.
BELLUGI, Ursula; KLIMA, Eward. The acquisition of three morphological systems in American Sign Language. Papersand Reports on child Language Development, v. 21,1982.
BORGES NETO, J. Os Papeis do Possessivo no Sintagma Nominal. Estudos Lingüísticos – Seminario do Gel, Mogi das Cruzes. (2), 62-69, 1978.
_____. Os Possessivos como indicadores de referencia e atribuição. D.E.L.T.A., (2), no1, 145-149, 1986.
BRITO, A. Os possessivos em Portugues numa perspectiva de Sintaxe Comparada. Revista da Faculdade de Letras – ‘Línguas e Literaturas’ XX:495-522, 2003.
CÂMARA Jr., Joaquim Mattoso. Dicionário de lingüística e gramática. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 1978.
CAPOVILLA, Fernando; RAFAEL, Walkiria. Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue da língua de sinais brasileira. vol. 1 e 2. São Paulo: Edusp/Imprensa Oficial, Fapesp, Fundação Vitae, FENEIS, Brasil Telecom, 2001.
CARDINALETTIN, A.; STARKE, M. The Tipology of Structural Deficiency: a Case Study of Three Classes of Pronouns. In: Clitics in the Language of Europe. Ed. Henk van Riemsdijk, 33-82. Berlin/ New York: Mouton de Gruyter, 1999.
CARVALHO, Danniel da Silva. A estrutura interna dos pronomes pessoais em português brasileiro. Dissertação para obtenção do título de Mestre em Linguística, Universidade Federal de Alagoas – UFAL. Maceió, 2008.
CORREIA, C. N. Estudos de Determinação: A Operação de quantificação qualificação em sintagmas nominais. Fundacao Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2002.
CHOMSKY, Noam.Aspects of the theory of syntax. Cambridge, Mass.: MIT Press, 1965.
_____. Lectures on government and binding. Dordrecht: Foris, 1981.
_____. The knowledge of language: its nature, origin and use.Praeger: New York, 1986.
_____. The Minimalist Program. The MIT Press, Cambridge. Massachusetts, USA, 1995.
_____. Novos horizontes no estudo da linguagem. In D.E.L.T.A., vol. 13, nº Especial. Pp.49-102, 1997.
_____. Minimalist Inquiries: The Framework. MITWPL 15. Cambridge. Mass: MITWPL, 1998.
_____. O programa minimalista. (Trad. Eduardo Paiva Raposo). Lisboa: Caminho, 1999.
DÉCHAINE, R-M.; WITSCHKO, M. Decomposing pronouns. Linguistic Inquiry, v. 33, nº 3, pp. 409-442, 2002.
FAUCONNIER, Gilles. Mental Spaces: aspects of meaning in natural language. Cambridge: Cambridge University Press, 1985.
FERREIRA, Lucinda. Por uma Gramática de Línguas de Sinais. Rio de Janeiro. Ed. Tempo Brasileiro, 2010.
FELIPE, Tanya A.. Introdução à Gramática da LIBRAS. Educação Especial – Língua Brasileira de Sinais. Brasília, MEC/SEESP: Série Atualidades Pedagógicas 4, 1997: p. 81-123
_____. Os processos de formação de palavras na Libras.Educação Temática Digital, v. 7, 2006.
FLORIPI, Simone Azevedo. Estudo da variação do determinante em sintagmas nominais possessivos na história do português. Tese (Doutorado em Linguística), UNICAMP. São Paulo: Campinas, 2008.
FUKUI, N E M. SPEAS. Specifiers and Projection. MIT working Papers 8:128-172, 1986.
FRAMPTON. J.; GUTMANN, S. Agreement is Feature Sharing. Ms.:Northeastern University, 2000.
FRIEDMAN, L. On the semantics of space, time and person in American Sign Language. Language, v. 51, 1976. p. 940-961.
GIUSTI. The birth of a functional category: from Latin ILLE to the Romance article and personal pronoun. In G. Cinque and G. Salvi (eds.) Current Studies in Italian Syntax: Essay Offered to Lorenzo Renzi, Amsterdam: North Holland, pp. 157-171, 2001.
HALL, D. G. Constraints on the interpretation of proper names. In: CLARK, Eve E (ed) Child Language Research Forum. Stanford Linguistics Association, 1993.
HARLEY, H. and RITTER, E. Person and number in pronouns: a feature-geometric analysis. Language 78, pp. 442-526, 2002.
ILARI, Rodolfo. Anáfora e Correferência: por que as duas noções não se identificam? Cad. Est. Ling.. UNICAMP. v. 41, p. 91-109. Campinas, 2001.
JIAMBO, Zhang. Nomes nus e classificadores do chinês mandarim: uma análise a partir da tipologia linguística sobre os sintagmas nominais. Dissertação para obtenção do título de Mestre. Programa de Pós-Graduação Semiótica e Linguística Geral, USP. São Paulo,2008.
KATO, Mary A.. Nomes e pronomes na aquisição. In. Congresso do ENAL. Porto Alegre. Anais: 2000.
_____. A evolução da noção de parâmetro. D.E.L.T.A.,18:2, 2002, 309-337.
KATO, M.; NUNES, J.A uniform raising analysis for standard and nonstandard relative clauses in Brazilian Portuguese, trabalho apresentado no Workshop do Projeto Tematico: A Sintaxe do Portugues Brasileiro. 2007.
KAYNE, R. S. The Antisymmetry of Syntax. Cambridge: The MIT Press; 1994, 186p.
KESTER, E.; SLEEMAN, P. (2002)N-ellipsis in Spanish. In:Linguistics in the Netherlands, John Benjamins, pp. 107-116. 2002.
LAHUD, Michel. A propósito da noção de dêixis. São Paulo. Ed. Ática, 1979.
LESSA-DE-OLIVEIRA, Adriana S. C. As sentenças relativas em português brasileiro: aspectos sintáticos e fatos de aquisição. Tese (Doutor em Linguística), UNICAMP. São Paulo: Campinas, 2008.
_____. Libras escrita: o desafio de representar uma língua tridimensional por um sistema de escrita linear. Revista Virtual de Estudos da Linguagem, v. 10, p. 150-184, 2012.
LIDDEL, Scott. Grammar, gesture and meaning in American Sign Language. Cambridge: University press, 2003.
_____. Spatial representations in discourse: comparing spoken and signed language. Língua, v. 98: 1996.
_____. Blended spaces and deixis in sign language discourse. In: MCNEILL, Donald (Ed.). Language and gesture. Cambridge. University press: 2000.
LIGHTFOOT, David. How to set parameters: arguments from language change. First MIT Press paperback edition, 1991.
LOBECK, A.“Ellipsis: Functional heads, licensing, and identification”, Language, vol. 72, nº 3, pp. 634-637. 1995.
LONGOBARDI, G. Reference and Proper Names : A Theory of N-Movement in Syntax and Logical Form. Linguistic Inquiry 25,4 : 609-665, 1994.
LOPES, C. R. A inserção de a gente no quadro pronominal do português: percurso histórico. Tese de Doutorado em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1999.
LYONS. C. Definiteness. Cambridge/ New York: Cambridge University Press, 1999.
MACNAMARA, J. Names for thinks. Cambridg, Mass: the MIT Press, 1982.
MARTINHO, F. J. dos S. A Elipse Nominal em Português e em Francês. Dissertação de Mestrado. Universidade do Porto: Portugal, 1998.
MASSINI-CAGLIARI, G.; CAGLIARI, L. C. Fonética. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (org.). Introdução à Linguística: domínios e fornteiras. São Paulo: Cortez, v. 1, 2001.
MATOS, G. “Construções elípticas” in Mateus et al. Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa: Caminho, Cap. 21, 2003.
MIOTO, Carlos; SILVA, Maria Cristina Figueiredo; LOPES, Ruth Elisabeth Vasconcellos. Novo manual de sintaxe. 3ª ed. Florianópolis. Ed. Insular, 2007.
MOREIRA, Renata.Uma descrição da dêixis de pessoa na língua de sinais brasileira: pronomes e verbos indicadores. 2007. 150f. Dissertação (Mestrado em Linguística), Universidade de São Paulo. 2007.
PIZZUTO, Elena; ROSSINI, Paolo; SALLANDRE, Marie-Anne; WILKINSON, Erin. Dêixis, anáfora e estruturas altamente icônicas: Evidências interlinguísticas nas Línguas de Sinais Americana (ASL), Francesa (LSF) e Italiana (LIS).In: QUADROS, Ronice; Vasconcellos, BARBOSA, M. L. (Org.). Questões Teóricas das Pesquisas em Línguas de Sinais. Ed. Arara Azul. Florianópolis, 2006.
PRADO, L.C.; LESSA-DE-OLIVEIRA, Adriana S. C . Dêixis em elementos constitutivos
da modalidade falada de línguas de sinais. Revista Virtual de Estudos da Linguagem, v. 10, p. 38-57, 2012.
QUADROS, R. M. de. Phrases structure of brasilian sign language.Porto Alegre: PUCRS, Tese de Doutorado, 1999.
QUADROS, Ronice Müller de; KARNOPP, Lodenir Becker. Língua de Sinais Brasileira: Estudos linguísticos. Porto Alegre. Ed. Artmed, 2004.
QUADROS, R. M. de; QUER, J. A caracterização da concordância nas línguas de sinais. In: LIMA-SALLES, Heloisa; NAVES, R. Estudos gerativos de língua de sinais brasileira e de aquisição de português (L2) por surdos. Goiânia: Cânone, 2010.
RAPOSO, Eduardo Paiva. Teoria da Gramática: A Faculdade da Linguagem. 2ª ed.. Editorial Caminho, SA. Lisboa, 1992.
REICHENBACH, H. Elements of Symbolic Logic. N.Y., Macmillan, 1994.
SCHOORLEMMER, M. Possessors, Articles and Definiteness In: Possessors, Predicates and Movement in The Determiner Phrase , Artemis Alexiadou & Chris Wilder (eds), 56-86, John Benjamins Publishing Company, 1998.
SLEEMAN, P. “Licensing empty nouns in French”, Language, vol. 74, nº 2, pp. 430-431. 1006.
STOKOE, William. A dictionary of American Sign Language on linguistic principles. Silver Spring, Md: Linstok Press, 1976.
_____. Sign language structure. Silver Spring: Linstok Press, [1960]1978.
_____. Sign and Culture: A Reader for Students of American Sign Language. Maryland: Linstok Press, 1960.
SZABOLSCI, A. Functional Categories in the Noun Phrase. In. Kenesei (ed.) Approaches to Hungarian 2, 167-190-JTE. Szeged, 1987.
STOWELL, T. The Role of the Lexicon in Syntax Theory. In Stowel and Wehrli (eds), Syntax and Semantics, vol. 26. Syntax and the Lexicon, 9-18, 1992.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Línguística Geral.BALLY, Charles; SECHEHAYE, Albert (Orgs.). São Paulo. Ed. Cultrix, 2006.
TORREGO, E. Evidence for Determiner Phrases. Ms., University ofMassachusetts, Boston MA, 1988.
TRASK, Larry. Dicionário de linguagem e linguística. Tradução de Rodolfo Ilari, São Paulo: Contexto, 2004.
VELOSO, Brenda. Construções classificadoras e verbos de deslocamento, existência e localização na língua de sinais brasileira. In: LIMA-SALLES, Heloisa; NAVES, Rosana. Estudos gerativos de língua de sinais brasileira e de aquisição de português (L2) por surdos. Goiânia: Cânone, 2010.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Categorias
Licença

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.