UM OLHAR PARA QUESTÕES DE LINGUAGEM DE SUJEITOS COM ALTERAÇÃO DE MEMÓRIA APÓS EVENTOS NEUROLÓGICOS

Autores

DOI:

https://doi.org/10.54221/rdtdppglinuesb.2022.v10i1.238

Palavras-chave:

Linguagem. Alteração de memória. Neurolinguística Discursiva.

Resumo

Esta tese apresenta a análise das relações estabelecidas na dinâmica da linguagem em processos de alteração de memória a partir da narrativa de dois sujeitos com eventos cerebrais agudos de etiologias distintas, um com encefalopatia anóxica e outro por tromboembolismo cerebral, com comprometimento da memória, destacando práticas discursivas (re)constituídas nos encontros e interações com interlocutores, a partir do olhar dos estudos neurolinguísticos para a linguagem nessas situações. Sob esse prisma, considera-se que o limiar do universo da memória, que vislumbra um processo de reconstrução de experiências passadas, por meio de transformações, transferências, elaborações, por meio da seleção, interpretação e integração de elementos, torna-se constitutiva da identidade e singularidade humana ao interatuar com a linguagem; sendo assim, a investigação aqui proposta parte da seguinte pergunta: Que efeito as práticas de linguagem exercem em sujeitos com processos de alteração de memória após eventos neurológicos? Como ponto de partida, considerou-se a hipótese de que a linguagem e a memória interatuam nos sistemas de enlaces e relações nas narrativas de sujeitos com alterações de memória após eventos neurológicos em contextos reais de interação, em experiências discursivas efetivas, em que se preconiza o diálogo, na dinâmica da reversibilidade de papéis, possibilitando (re)constituições de caminhos. Essa opção se estabelece em contraposição às atividades psicométricas ou metalinguísticas, que se limitam a categorizar o que falta em situações de atividades verbais descontextualizadas. Nesse sentido, o objetivo principal desta tese é identificar o efeito das práticas com a linguagem em processos de alterações de memória de sujeitos após eventos neurológicos por meio de acompanhamento neurolinguístico. Como objetivos específicos, preconiza-se: (a) analisar, por meio de práticas dialógicas, como o sujeito da linguagem se organiza com/na/pela linguagem em processos de alteração de memória após eventos neurológicos; (b) compreender as redes de enlaces estabelecidas pela linguagem nas narrativas de sujeitos com alterações de memória após eventos neurológicos; (c) contribuir para o desenvolvimento de metodologia qualitativa para compreensão da relação entre linguagem e memória com o intuito de subsidiar a intervenção em casos de alteração de memória após eventos neurológicos. Dessa forma, é adotada a abordagem teórico-metodológica da Neurolinguística Discursiva, que explora uma visão abrangente da linguagem no sentido de contemplar o sujeito, suas relações, o âmbito histórico, social e as implicações desse processo no contexto cognitivo, para que se possa operá-la, atuar com o outro, considerando o seu trabalho coletivo e os efeitos do processo de interlocução, que interferem na (re)construção de processos linguísticos. Trata-se de uma metodologia de caráter qualitativo, com foco no acompanhamento longitudinal de dois sujeitos, contemplando a análise dos fenômenos da linguagem e suas relações com as alterações de memória. A partir desse contexto, tornou-se perceptível que as narrativas advindas dos relatos orais, das conversas informais, das interações revelam a dinâmica de processos de (re)construção em que emergem lugares de possibilidades de arranjos e rearranjos para a linguagem e a memória.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AZEVEDO, C. Capítulo 5: Memória. In: Fundamentos da Neuropsicologia Clínica Sócio Histórica: A compreensão do desenvolvimento cognitivo e sócio emocional do humano, São Paulo, SP: Editora IPAF, 2012, p. 73-86.

BADDELEY, A.; EYSENCK, M. W.; ANDERSON, M. C. Memória. Porto Alegre: Artmed, 2011. 471 p.

BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. Tradução feita a partir da versão em francês por PEREIRA, M. E. G. São Paulo: Martins Fontes, 1997, 414 p.

BARTLETT, F. C. Recordar. Madrid: Alianza Editorial, 1930, 400p. Edição consultada: 1995.

BAUM, C.; MARASCHIN, C. Level Up! Desenvolvimento Cognitivo, Aprendizagem Enativa e Videogames. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 29, e132334, p. 1-11, 2017.

BEILKE, H. M. B.; NOVAES-PINTO, R. C. A narrativa na demência de Alzheimer: reorganização da linguagem e das memórias por meio de práticas dialógicas. Estudos Linguísticos (São Paulo. 1978), v. 39, p. 557-567, 2010.

BENVENISTE, E. Problemas de lingüística geral I. Tradução: Maria da Glória Novak e Maria Luisa Neri: revisão Isaac Nicolau Salum. 5ª ed. Campinas, SP: Pontes Editores, 1966. 387 p. Edição consultada: 2005.

BENVENISTE, E. Problemas de lingüística geral II. Revisão técnica da tradução: Eduardo Guimarães. 2ª ed. Campinas, SP: Pontes Editores, 1974. 294 p Edição consultada: 2006.

BRUNER, J. S. Apresentação da edição de 1987. In: LURIA, A.R. A mente e a memória: um pequeno livro sobre uma vasta memória. São Paulo: Martins Fontes, 1987, IX- XVIII. Edição consultada: 1999.

CANEPPELE, A. Por onde a neurolinguística discursiva caminha através da teoria freudiana? In: COUDRY, M. I. H. et al (Orgs.). Caminhos da Neurolinguística Discursiva: teorização e práticas com a linguagem. Campinas: Mercado de Letras, 2010. p. 23-48.

CANGUILHEM, G. O normal e o patológico 6ª. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1966, 129 p. Edição consultada: 2009.

COTA, I.R.; SAMPAIO, N.F.S. Videogame, associações de língua(gem) e desordens de memória: encontros e revelações. Prolíngua. [S. l.], v. 16, n. 2, p. 246–255, 2021. DOI: 10.22478/ufpb.1983-9979.2021v16n2.58810. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/prolingua/article/view/58810. Acesso em: 24 fev. 2022.

COTA, I.R.; SAMPAIO, N. F. S. Alterações de memória, associações linguísticas e práticas discursivas no contexto pandêmico da Covid-19. Linguasagem. (No prelo)

CORREIA, C. M. F. Funções musicais, memória musical-emocional e volume

amigdaliano na doença de Alzheimer, 2010, 165f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Neurologia/

Neurociências.

COUDRY, M. I. H. Diário de Narciso: discurso e afasia: análise discursiva de interlocuções com afásicos. 3ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988. 205 p. Edição consultada: 2001.

COUDRY, M. I. H. O que é dado em Neurolingüística. In: CASTRO, M.F.P. (Org.). O método e o dado no estudo da linguagem. Campinas, SP: Editora Unicamp, 1996, p. 179-194

COUDRY, M. I. H. Linguagem e Afasia: Uma abordagem discursiva da Neurolingüística. In: Cadernos de Estudos Linguísticos, 42, Campinas, IEL, UNICAMP, 2002, p. 99-129.

COUDRY, M. I. H. Neurolinguística Discursiva: afasia como tradução. Estudos da Língua(gem), Vitória da Conquista, v.6, 2008, p. 7-36

COUDRY, M. I. H. Controvérsias na patologização e contradiscursos na afasia e na infância. Estudos linguísticos 49, 2020, p. 379-396.

COUDRY, M.I.H.; et al. (Orgs.) Caminhos da neurolinguística discursiva: teorização e práticas com a linguagem. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2010, 399 p.

COUDRY, M.I.H.; FREIRE, F. M. P. Pressupostos teórico-clínicos da Neurolingüística Discursiva (ND). In: COUDRY, M. I. H. (Org.). Caminhos da Neurolinguística Discursiva: teorização e práticas com a linguagem. Campinas: Mercado de Letras, 2010. p. 23-48.

COUDRY, M.I.H; POSSENTI, S. Avaliar discursos patológicos. Cadernos de Estudos Lingüísticos, Campinas, n. 5, 1983, p. 99-109.

ESTUDO do Incor sobre sequelas cognitivas deixadas pela covid-19 pode virar referência da OMS. Jornal da USP. São Paulo. 20/02/2021. Disponível em:https://jornal.usp.br/?p=388775

Acesso em 27/07/2021.

FEDOSSE, E.; ANDRADE, M. L. F.; FLOSI, L. C. L. “Neurolingüística”: diferentes vertentes. In: COUDRY, M. I. H., et al. (Orgs.) Caminhos da neurolinguística discursiva: teorização e práticas com a linguagem. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2010, p. 141-158.

FOSTER, J. K. Memória. Porto Alegre, RS: L&PM, 2011, 153.

FRANCHI, C. Linguagem – Atividade Constitutiva, in: Almanaque, 5. São Paulo: Brasiliense, 1977, p. 9-27.

FRANCHI, C. Prefácio, 1986. In: COUDRY, M.I.H. Diário de Narciso: discurso e afasia: análise discursiva de interlocuções com afásicos. 3ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988. 205 p. Edição consultada: 2001.

FREUD, S. A interpretação das afasias. Lisboa: Edições 70, 1891. (Edição consultada: 2003)

GEE, J. P. Bons videogames e boa aprendizagem. Perspectiva, Florianópolis: UFSC, v. 27, n. 1, p. 1-11, jan./jun. 2009.

GINZBURG, C. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: GINZBURG, C. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. Tradução: Federico Carotti. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 143-179.

IZQUIERDO, I. Memória. Porto Alegre: Artmed, 2002. 95 p.

JAKOBSON, R. Lingüística e comunicação. São Paulo: Cultrix, 1969. (Edição consultada: 1999), 163 p.

JOURNAL OF MEMORY AND LANGUAGE, 2020-2011, ISSN: 0749-596X. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/journal/journal-of-memory-and-language. Acesso em: 31 de março de 2020.

LEBRUN, Y. Tratado de Afasia. São Paulo: Paramed Editorial, 1983, 124p.

LURIA, A. R. Fundamentos de Neuropsicologia. Tradução de Juarez Aranha Ricardo. Rio de janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora, S.A. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1981. 344p. (Edição consultada: 1984).

LURIA, A. R. Pensamento e Linguagem: as últimas conferências de Luria. Tradução: Diana Myriam Lichtenstein e Mário Corso. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. 251p.

LURIA, A. R. Curso de psicologia geral: atenção e memória. V.III, Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1979.

MELO NETO, J. C. de. A educação pela pedra e outros. Rio de Janeiro: Objetiva, 1966. 294p. (Edição consultada: 2008).

MINAYO, M. C. S. Desafio do Conhecimento. Pesquisa Qualitativa em Saúde. 9. ed. São Paulo: Hucitec, 2006.

MORATO, E. M. Referenciação metadiscursiva no contexto das afasias e da Doença de Alzheimer. Letras de Hoje. Porto Alegre, RS, v. 47, n. 1, p. 45-54, jan./mar. 2012.

NOVAES-PINTO, R. C. Desafios metodológicos da pesquisa em Neurolinguística no início do século XXI. Estudos Linguísticos (São Paulo. 1978) , v. 40, p. 966-980, 2011.

NOVAES-PINTO, R. C. Variações individuais nos processos linguístico-cognitivos de envelhecimento normal ou patológico: Cada caso é um caso. Estudos Linguísticos (São Paulo. 1978), v. 46, p. 745-759, 2017.

OLIVEIRA, M. V. B. Palavras na ponta-da-língua: uma abordagem neurolinguística, 2015. 172 f. Tese (doutorado). Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem.

ORLANDI, E. Análise de Discurso: Princípios e Procedimentos. 8. ed. Campinas: Pontes. 1999. 100 p. Edição consultada: 2009.

PANHOCA, I. Histórias de vida de pessoas com Doença de Alzheimer: Linguagem e presença de sujeito. Estudos Linguísticos. São Paulo, SP., v. 42, p. 878-888, 2013.

PEREIRA, E. L. A. Traço, código, linguagem e memória: a emergência da mente entre o “projeto” freudiano e a neurobiologia moderna, 2020. 113f. Tese (doutorado) – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade, Vitória da Conquista, 2020.

RIVERO, T. S.; QUERINO, E. H. G.; STARLING-ALVES, I. Videogame: seu impacto na atenção, percepção e funções executivas. Neuropsicologia Latinoamericana, Calle, v. 4, n. 3, p. 38-52, 2012.

SACKS, O. O rio da consciência. Tradução Laura Teixeira Motta. 1ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2017, 170p.

SAMPAIO, N. F. S. Uma abordagem sociolingüística da afasia: o Centro de Convivência de Afásicos (UNICAMP) como uma comunidade de fala. Tese de Doutorado. Campinas: Dep. de Lingüística, Instituto de Estudos da Linguagem, UNICAMP, 2006.

SAUSSURE, F. Curso de lingüística geral. 27. ed. Rio de Janeiro: Cultrix, 1916. 279 p. Edição consultada: 2006.

SARAMAGO, J. Viagem a Portugal. São Paulo: Editora Schwarcz S.A, 1995, 281p.

THIBAULT, P. J. Memória, coordenações associativas e sintagmáticas e microgênese linguística: implicações e prospectos para a teoria da linguagem de Saussure. Matraga, Rio de Janeiro, RJ, p. 228-279, Jan/Jun 2014.

VYGOTSKY, L. S. LURIA, A. R. Estudos sobre a história do comportamento: o macaco, o primitivo e a criança. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996, 252p.

Arquivos adicionais

Publicado

30-12-2022